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Dúvidas de autonomia

Guilherme Rego*

Macau tem conseguido dar resposta às exigências de Pequim no capítulo da integração política e regional. Aquilo que era necessário para “blindar” a região administrativa especial de ameaças estrangeiras ao poder está feito. Na integração regional, que também parte de Pequim, vai-se integrando na Grande Baía. Tem, portanto, nota máxima no cumprimento do princípio “Um País”.

Falta, contudo, dar resposta à segunda parte da política: “Um País, Dois Sistemas”. A autonomia dada a Macau e Hong Kong não se limita à assinatura de acordos de transição com Portugal e Reino Unido. Essa autonomia também beneficia Pequim. Sabe que pode utilizar estas duas “montras” para melhorar as relações com o ocidente. O princípio “Um País, Dois Sistemas”, exclusivo destas duas regiões, está a ser mal interpretado. Talvez faltem linhas orientadoras que tracem os limites do poder central e da autonomia local. Macau, que na integração regional e aproximação com Pequim segue a uma velocidade estonteante, está à deriva no capítulo da autonomia. Ainda no preâmbulo, só a utiliza para condicionar o seu próprio desígnio de ponte com o exterior – repele não só estrangeiros, como também nacionais chineses para proteger o emprego local; perde a multiculturalidade e o pensamento crítico que precisa para ser uma plataforma de entendimento e conselheiro de Pequim. A nível regional também isso terá consequências, pois pode acabar por ter poucos argumentos no complemento à Grande Baía.

Acaba por temer que a sua autonomia entre em conflito com o Governo Central e, em caso de dúvida, aguarda por ordens, ou reprimendas por inação (sempre melhor que por ação). A realidade é que Macau pode fazer muito mais na sua condição. Quer no envolvimento com a comunidade local, que tem sido deficiente, quer nas sinergias com a Lusofonia, que caíram numa rotina pouco produtiva e de teto evidente. Sobretudo, na própria luta por manter uma sociedade multicultural, que compreende o ocidente. Não o fazendo, fere Pequim. O ocidente crê que Macau perdeu a autonomia durante a Covid-19, e a cidade não se esforça em provar o contrário.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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