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Apoios que (não) ajudam

Guilherme Rego

Nem os residentes, nem o Governo; ninguém tem realmente culpa do contexto que se vive. A abertura das fronteiras com o Continente e a livre circulação de veículos para Guangdong são um duro golpe para o tecido empresarial das zonas residenciais. Os residentes têm mais oferta do lado de lá e, como se não bastasse, a um custo que as lojas em Macau nem nos sonhos conseguem praticar.

Como o diretor da Macau Business disse no seu mais recente editorial, talvez este esquema transfronteiriço pudesse ter sido implementado de “forma mais gradual”. Porém, “agora já não dá para voltar atrás”. José Carlos Matias diz o que é óbvio, mas não deixa de ser um conselho de futuro para as autoridades locais, pressionadas pelo Governo Central a acelerar a integração regional, sem ter tempo para prevenir o seu impacto na cidade.

É de louvar, no entanto, a rapidez com que o Governo local se apercebeu da gravidade do problema e colocou mãos à obra: incentivos ao consumo nas zonas mais afetadas, e uma campanha publicitária para desviar os turistas – fascinados pelo centro da cidade. Embora reconheça a atitude, e a valorize, estas medidas são superficiais – uma tentativa de resolver de acordo com a urgência apresentada. Os incentivos ao consumo não podem ser eternos (e vieram com prazo estabelecido); e tornar estas zonas atrativas para os turistas é um trabalho difícil e complexo, que não se resolve à mesma velocidade a que as lojas fecham. O facto de cada vez mais negócios fecharem empobrece ainda mais a oferta turística que se quer nessas zonas. É um dilema para o Governo, para essas empresas, e certamente para as concessionárias, que mais tarde ou mais cedo serão obrigadas a desviar os turistas para zonas onde não têm atividade sólida.

É cruel, mas real; muitas empresas vão fechar até chegar a solução, que inevitavelmente tem de passar por um ato de coragem política. Passa maioritariamente por uma análise honesta, de encarar as coisas como elas são: os residentes não vão voltar a consumir da mesma forma nestas zonas. Podem temporariamente regressar mediante campanhas promocionais, mas será sempre um número marginal e insatisfatório. Reconhecer essa realidade muda tudo. Se a aposta passa, inevitavelmente, por desviar os turistas, então há que pensar seriamente na requalificação das zonas e negócios. Perceber como se promovem estes bairros, qual a mensagem que apela aos turistas e, segundo, ver junto dos proprietários qual é a possibilidade de requalificarem os seus espaços para se adequarem a esse propósito. Além disso, terá de haver estratégias de marketing bilaterais (público-privadas) e apoio tecnológico para que a localização deixe de ser um problema e talvez até um benefício – dado os custos operacionais mais baixos. Programas de apoio ou subsídios têm de ser sensíveis às dificuldades de hoje, mas também exigentes do ponto de vista da qualidade e identidade que são necessárias para a sustentabilidade a longo prazo do tecido empresarial nestas zonas. Um programa que tenha como principal foco a sobrevivência de empresas incapazes de sobreviver apenas tarda a aposta no futuro.

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