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Guerra moral

Guilherme Rego*

Guerra Israel-Hamas. Quanto mais se percebe a história do conflito, mais longe se fica da razão. É complexo; tem Quanto, política, terras, e uma herança pesada que mais dificilmente se dilui no tempo – mortes dos dois lados. Países nas margens do conflito, tal como no caso da Ucrânia, também jogam os seus interesses – ao lado de quem reforça a sua segurança nacional, perpetua ideais e influência global. Adicionam mais uns metros à muralha que divide o mundo; e cada vez é mais difícil ver quem está do outro lado…

Compreender o conflito, com equilíbrio, é compreender que ambos os lados querem escrever direito por linhas tortas. A razão, essa, há muito que já não tem créditos em Gaza – ou no West Bank. O Hamas tem a força que tem – financiamento à parte – porque Israel sufoca o povo palestiniano. É um facto. Por seu lado, face ao horrendo ataque de 7 de outubro – o pior contra os judeus desde o Holocausto-, Israel responde “proporcionalmente”. Entre aspas; porque a proporcionalidade do contra-ataque não pode ser balizada. A razão, essa, cada vez mais distante…

A Ocidente, Israel é a vítima. No Médio Oriente é a Palestina. Se a solução depender dos dois, um deles acaba extinto. E Gaza está do lado fraco. Os agentes externos consolidam o antagonismo; a ONU não consegue sequer passar uma resolução. Quem não condena o Hamas é logo vetado pelos EUA. Biden primeiro pediu tempo para a diplomacia. Depois, prometeu apoio militar incondicional ao aliado judeu e 100 milhões de dólares de ajuda humanitária a Gaza, bombardeada com o seu patrocínio. Tem tanto de genial como de ridículo.

O secretário geral da ONU, António Guterres, na tentativa de sensibilizar ambas as partes para os seus erros históricos, perdeu face com Israel e dificilmente fará parte da solução. Já é acusado de ser pro-Hamas… O futuro é negro: Israel quer o fim do Hamas; estes querem o fim de Israel. E o povo? Provavelmente, em ambos os lados querem é paz. Quem sabe disso apela ao diálogo, mas está condenado ao fracasso se não começar por apontar o dedo a alguém.

É uma visão completamente errada. As palavras gastam-se na discussão da moralidade do ato e da resposta; do lado bom e do mau. Quem tem a moralidade vê os seus atos justificados; quem não a tem é marginalizado. Pergunto-me que país ou resistência concorda sentar-se nestes termos. Só há uma hipótese, talvez ingénua, mas a única. Cedências dos dois lados: ambos têm de reconhecer os seus erros, nivelar a balança. Só assim se reescrevem duas narrativas que nunca tiveram encaixe, que produzem guerras cíclicas sempre sob os mesmos pretextos e argumentos.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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