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Os desafios de Macau na Grande Baía

*Guilherme Rego

Mesmo com a pandemia, a Grande Baía aumentou o seu produto interno bruto (PIB) em 25 por cento. Se fosse um país, seria hoje a nona maior economia do mundo, à frente do Canadá, Coreia do Sul ou Brasil. O seu PIB é 46 vezes maior que o de Portugal e nem mesmo os Países de Língua Portuguesa no seu conjunto ultrapassam esta região – seriam a décima maior economia do mundo.

Embora o percalço pandémico possa ter atrasado alguns dos objetivos, o planeamento doméstico sofreu poucos incómodos. O plano da mobilidade e integração regional até beneficiaram da pandemia em alguns aspetos. Hoje é possível viajar de uma cidade para outra em praticamente uma hora. Residentes das RAE já podem concorrer a postos nos governos municipais e conduzir no interior da China, entre outras novidades.

Na semana passada, a convite do Comissariado dos Negócios Estrangeiros na Região Administrativa Especial de Macau, tive a oportunidade de ver com os próprios olhos como a Grande Baía assume forma no Continente. Nos últimos três anos, apenas pudemos ler e escrever sobre os novos empreendimentos, infraestruturas e descobertas científicas. Mas, como em tudo, uma coisa é ler, outra é ver.

A separação das áreas de desenvolvimento é clara. Cada cidade tem o seu papel no macro. As vantagens comparativas de cada uma são reconhecidas e tira-se o proveito para que se complementem. A ligação entre o Estado e as empresas facilita este processo, e torna-o muito mais rápido em comparação com outros hubs regionais ou mundiais. Os objetivos do primeiro tornam-se os objetivos do segundo, que rapidamente procede à sua materialização. Esta aliança torna a Grande Baía um projeto que dificilmente perderá o seu rumo.

Há, no entanto, uma imcompatibilidade com o conceito de complementaridade aqui proposto. As fronteiras acabaram de abrir e a corrida por talentos é, efetiva- mente, uma competição feroz dentro do próprio seio da Grande Baía. Algumas das cidades têm programas de atração muito fortes… e acolhedores. Macau, nesse sentido, estará um pouco aquém daquilo que se pede, talvez por também ser das cidades que enfrenta maior reconfiguração nos próximos anos. Este atraso de alguns, ou a incapacidade de competir com os programas de outros, pode abrir fissuras na projeção do crescimento equilibrado e nivelado das 11 cidades da Grande Baía. Se algumas ficarem para trás, pelo facto de os talentos serem absorvidos pelas cidades com maior capacidade, então a complementaridade vai sofrer – a troca de know-how e de tecnologia vai ser afetada. Num cenário mais dramático, pode levar a nova reconfiguração industrial das que não acompanharam o desenvolvimento. Macau corre contra o prejuízo. Não por sofrer (mais) com a pandemia, mas pelos anos de inércia ao leme da indústria do jogo. É certo que a ausência da diversificação também trouxe trunfos. A cidade tem infraestruturas de hospitalidade e MICE fora de série. Mas as outras indústrias que agora se exigem não estão consumadas. Diga-se de passagem que nenhuma delas é necessariamente exclusiva a Macau, nem mesmo a ponte com os Países de Língua Portuguesa.

No novo ciclo, tem de haver essa cons- ciência e humildade. A cidade é pequena e desse ponto de vista estará sempre em desvantagem. Por isso, tem de ser mais inteligente. Se não atacar áreas específicas desde já, ignoradas pelas outras cidades, Macau corre o risco de não conseguir queimar etapas e de não agir como com- plemento. O posicionamento das indús- trias emergentes ainda não é totalmente claro, e isso traz dúvidas relativamente ao que Macau traz à Grande Baía.

*Diretor-Executivo da PLATAFORMA

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