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Entre os interesses e as obrigações

Guilherme Rego*

Terminada a próxima década, o jogo vai-se manter como principal alicerce da economia de Macau. A muralha que Pequim construiu parece manter a indústria asfixiada, mas a reabertura garantiu que não sufoca. Até agora, os resultados são positivos e pode-se pensar num futuro em que o jogo sobreviva. Não obstante, há dúvidas se o céu é o limite, ou se este encontra-se mais próximo do chão. Mesmo sem vaticinar um fim prematuro, fruto dos números do primeiro trimestre, sabe-se que tudo pode ter perna curta. Macau tem beneficiado de uma procura não correspondida pelas companhias aéreas na China, que lutam para recuperar a sua capacidade. Por outro lado, a população ainda vê com algum receio sair do país.

Mesmo que as receitas estivessem asseguradas, foram consagradas responsabilidades acrescidas destas empresas nos novos contratos. Embora especializadas em jogo, são agora obrigadas a desenvolver uma operação extra-jogo rentável. Esta necessidade de mudar radicalmente o modelo de negócio vai certamente redesenhar o tecido laboral da cidade, mas também a própria relação do Governo com as operadoras.

A maioria dos eventos da cidade são financiados pelas concessionárias, mas geridos por departamentos públicos. Em alguns destes eventos, a receita até fica do lado do Governo. A recuperar da hemorragia financeira dos últimos três anos, será que se podem dar ao luxo de deixar passar oportunidades? Em alguns casos já estão a exigir maior controlo destas operações, apesar de se notar a inexperiência em lidar com algo que não seja jogo.

Mas ao retirar essa responsabilidade do Governo, mexem com o seu papel e com as necessidades de reorganizar a própria Função Pública. Se a maioria dos eventos passarem para domínio direto das concessionárias, muitos dos funcionários públicos deixam de ter utilidade. A isto pode juntar-se o interesse em diminuir os encargos públicos. Numa utopia, estes trabalhadores simplesmente migrariam para o privado, preenchendo as visíveis lacunas das concessionárias em talentos não-jogo. Contudo, essa é uma mentalidade ingénua, porque são precisos mecanismos que garantam essa transição. Ao mesmo tempo, o Governo tem de proteger a sua relevância, sob pena de perder controlo dos interesses públicos e políticos, mas também não pode cortar as pernas às concessionárias, encarregadas de construir a nova Macau.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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