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Stress pós-pandémico

Nelson Moura*

A saúde mental é das vertentes mais negligenciadas em Macau, quando devia ser uma das áreas com maior investimento pela tutela da saúde. Os números revelados num dos artigos desta edição do PLATAFORMA são avassaladores: em 2022 houve 80 suicídios, dos quais 15 foram no quarto trimestre. Ou seja, uma média de pelo menos um suicídio por semana entre outubro a dezembro.

Estes números evidenciam a enorme pressão psicológica que as restrições pandémicas causaram. Por mais resiliente que se seja, os residentes ainda sentem os efeitos da enorme insegurança económica e social dos últimos anos. A população passou por instabilidade no emprego, medo e receio pela saúde dos familiares, quarentenas, isolamentos domiciliários e muitos sem poder sair da cidade por quase 1000 dias.

Saindo da crise, a RAEM está agora em negação. Qualquer mazela ou stress pós–traumático foi varrido para debaixo do tapete. A ausência de qualquer debate público sobre os últimos três anos é de um silêncio ensurdecedor. Não é necessário ser um profissional de aconselhamento psicológico para saber que empurrar experiências traumáticas para os cantos mais recônditos da mente não é uma estratégia sustentável para o equilíbrio mental. Simultaneamente, alguém que procure ajuda é confrontado com um sistema de saúde público e privado com um número de serviços reduzido.

Residentes a passar por dificuldades são confrontados com a possibilidade de ver apenas um profissional de saúde mental, e isto meses depois de ter pedido ajuda.

As mazelas do esgotamento mental continuam aí, escondidas por detrás de muitas caras sorridentes, prestes a vir ao de cima se não forem levadas a sério pelos serviços de saúde.

*Editor (português)

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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