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Fórum Macau vale mais do que parece

Paulo Rego*

Vem aí a 6.ª Conferência Ministerial do Fórum Macau, de 21 a 23 deste mês de abril. Não podia ser depois, porque o processo de escolha do Chefe do Executivo toma conta de todas as atenções em Macau, a partir de maio. Não podia ser antes, porque não havia capacidade de acelerar o processo e antecipá-lo. E não podia ser melhor, porque a ambição maior, de trazer a Macau primeiros-ministros da China e dos Países de Língua Portuguesa, caiu por terra muito cedo, por força de vários constrangimentos de agenda, da própria China, e também de Portugal. Mas vale muito a pena insistir neste caminho de um fórum multilateral, mesmo reconhecendo que nasceu torto, e tarda a endireitar-se.

O primeiro nó górdio está na sua própria conceção formal, debaixo da tutela do Ministério do Comércio chinês. Pela sua natureza, não tem tato político e mostra alguma incompreensão sobre o incontornável escopo político como bloco relacional com potencial económico e comercial. Macau não é uma plataforma comercial; aliás, nunca revelou capacidade governativa nem tecido empresarial capaz lhe dar essa dinâmica. Contudo, percebe-se que, se a tutela do Fórum fosse do Ministério dos Negócios Estrangeiros, isso criaria ruído nos consulados da Região e nas embaixadas lusófonas em Pequim.

O segundo problema tem a ver com a falta de entusiasmo no Palácio da Praia Grande nessa missão de ser plataforma lusófona. Nunca essa consciência foi prioritária nem cabalmente assumida. Há uma catarse histórica escondida, e um conflito surdo com a própria conceção local da autonomia, que não inclui relações externas. Nenhum desses constrangimentos foi, de facto, contornado – e é pena.

O terceiro bloqueio surgiu pela ineficácia do fundo de investimentos lusófono, que nunca passou de uma linha para empréstimos bancários, com juros bonificados. Não é um instrumento verdadeiramente eficaz para alavancar empresas de Macau, com ou sem sócios do Continente, para investimentos estratégicos nos Países de Língua Portuguesa – nem nunca funcionou em sentido contrário, para promover empresas lusófonas na Grande Baía e na China.

Muita coisa tem de mudar para que o projeto lusófono sirva a diversificação económica e a relevância estratégica de Macau. Mas alguma coisa foi já conseguida com a criação do Fórum Macau, em 2003. Primeiro, não fosse essa missão de ser plataforma, e Macau seria hoje uma aldeia ainda mais fechada sobre si própria, exclusivamente focada na integração regional. Segundo, não fosse Pequim institucionalizar essa narrativa lusófona, e não haveria nada a que Macau se agarrasse nesse capítulo. O Fórum não tem o perfil, nem lhe cabe verdadeiramente resolver o problema. Mas aquilo que representa, e a insistência nessa tese, permite sonhar com a ideia de que um dia encontrará o seu caminho, mantendo Macau nesse rumo.

Ministros da economia, comércio e indústria são aqueles que dominam as presenças lusófonas este mês em Macau. O que faz sentido, no formato atual, e é o patamar que nesta altura pode reabrir as conversas sobre investimentos cruzados, usando Macau para o objetivo prioritário de recuperar a economia chinesa por via da globalização. Nas mais variadas geografias, proliferam os nacionalismos e os protecionismos, anunciando tempos difíceis para o desenvolvimento global sustentável e pacífico. Estes fóruns multilaterais, por muitos problemas que enfrentem, são hoje uma bandeira que cada vez faz mais sentido empunhar.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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