Início » Porque os residentes de Macau ainda usam máscara?

Porque os residentes de Macau ainda usam máscara?

Nelson Moura

Meses depois da reabertura da cidade e o remover das restrições pandémicas, são vários os residentes que continuam a usar máscara. Conforto, incerteza e receio pela saúde são algumas das razões dadas pelo departamento de psicologia da Universidade de São José

“Com base na minha experiência e em algumas conversas que tive com alguns alunos e pessoas, tenho a ideia de que em algumas pessoas isto pode estar relacionado com o sentido de ‘eu’,” diz ao PLATAFORMA o Chefe do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de São José, o Professor Vitor Teixeira.

“Após três anos a usar máscara algumas pessoas podem sentir-se “nuas ou expostas”, e é possível que não saibam quem são em público sem a máscara”.

O mesmo professor cita uma resposta do sistema de Inteligência Artificial, ChatGPT, de que atualmente não existem provas científicas que sugiram que as pessoas que usam máscaras faciais por um longo período de tempo tenham desenvolvido uma dependência psicológica.

“No entanto, é possível que alguns indivíduos se sintam mais confortáveis ou seguros ao usar uma máscara e sintam um certo grau de ansiedade ou desconforto quando não a usam”, indica o programa.

“É importante notar também que algumas pessoas podem ter sofrido traumas ou ansiedade relacionados à pandemia, e usar uma máscara pode proporcionar uma sensação de controlo ou segurança numa situação incerta. Em alguns casos, isso pode levar a uma sensação de apego à máscara como um mecanismo de resiliência.”

Na opinião de Angus Kuok, Coordenador do Mestrado em Psicologia Organizacional da universidade, uma das principais razões para o uso continuado é “evitar a incerteza”.

“Especialmente os chineses que têm menor aceitação para a incerteza […] Não creio que alguém em Macau possa dar uma resposta certa a qualquer uma destas questões, por isso, para evitar incertezas, é melhor fazer algo de acordo com a experiência dos últimos três anos continuar a usar máscara”, descreve.

A professora Maria Rita Silva, Coordenadora do Bacharelado em Psicologia da USJ, aponta que Macau caracteriza-se por um elevado “coletivismo e distanciamento do poder”, o que significa que a pertença a grupos é valorizada e que existe deferência para com as autoridades.

“Pode ser considerada uma sociedade rígida, uma sociedade onde as regras são rígidas e a quebra de regras é consistentemente penalizada. Com as medidas de controlo da pandemia de Covid-19 sendo enfatizadas pelas autoridades nos últimos três anos, o uso de máscaras tornou-se socialmente institucionalizado e as pessoas aprenderam a conformar-se com esse comportamento”, acrescenta.

“Hoje, o uso de máscaras é percebido pela população local como a ‘coisa certa a fazer’. É possível que o uso da máscara em público seja percebido, mais do que servir ao propósito prático de controlar a propagação da Covid-19, como um comportamento sinalizador de virtudes, uma forma de mostrar aos outros que alguém é um membro íntegro da sociedade.”

Coletivismo e conformidade

Cynthia Leong, Oradora Sénior da Faculdade de Ciências da Saúde, indica ser necessário avaliar a cultura na qual o indivíduo cresceu e ainda vive.

“As pessoas que cresceram e vivem numa cultura coletivista dão mais ênfase às necessidades e direitos do grupo (ao qual pertencem), à harmonia das relações com os outros, à auto-estima do grupo, a sua experiência emocional depende do valor social e da realidade social”, acrescenta.

“Acredita-se que as suas motivações fundamentais sejam evitar a perda de respeito, porque o respeito dos outros pode ser facilmente perdido e difícil de ser recuperado.”

Outra oradora da faculdade, Joana Costa, indica que na Ásia e em Macau, o uso de máscara “não é algo novo e, portanto, para a maioria da população, pode não ser percebido como algo perturbador/fora do comum” em comparação, por exemplo, com o mundo ocidental.

“Antes da pandemia, era comum usar máscara quando se estava doente. Pós–pandemia, possivelmente por ter estado numa bolha livre de Covid-19 por tanto tempo (novamente, em comparação com a maioria do mundo que não fechou fronteiras e lidou com as piores/iniciais ondas de Covid-19), tornou-se agora aceitável usar uma máscara tanto para prevenção quanto para proteção”, acrescenta.

“Embora sejam uma minoria, as pessoas que (ainda) não foram infetadas podem usar máscaras faciais por medo/para prevenir a infeção. Além disso, aqueles que não estão totalmente vacinados, com pelo menos duas doses, também podem sentir-se em maior risco, temendo apanhar Covid-19 pela primeira ou até pela segunda vez. Da mesma forma, pessoas com sistema imunológico fraco ou os familiares podem usar máscaras faciais para proteção”.

Por outro lado, admite que a maioria da população pode ainda estar a usar máscaras faciais como um método de conformidade com o grupo.

“Mesmo que não usem máscaras faciais necessariamente como um comportamento de sinalização de virtude (mostrando que respeitam a saúde alheia, por exemplo), podem sentir-se compelidos a continuar a usá-la, uma vez que a maioria das pessoas nas ruas de Macau o fazem e não querem sentir vontade estranhos/criticados por não a usarem”, indica.

Contact Us

Generalist media, focusing on the relationship between Portuguese-speaking countries and China.

Plataforma Studio

Newsletter

Subscribe Plataforma Newsletter to keep up with everything!