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O possível retorno do terrorismo

David ChanDavid Chan*

As forças militares americanas começam agora a retirar-se do Afeganistão e, apesar de ser fácil enviar estes militares de volta para casa, o transporte de equipamentos não é assim tão simples. No final de contas, 20 anos resultam num gigantesco total de material acumulado, com vários Boeing C-17 Globemasters em constante atividade para cumprir com os prazos de saída.

Grande parte destes equipamentos foram já transportados para campos de guerra na Europa, Ásia e Médio Oriente. Parte foi ainda oferecida às forças afegãs, e cerca de 1.300 equipamentos valiosos, mas não o suficiente para ser transportados, foram destruídos no local, por receio que as forças talibãs se apoderassem dos mesmos. Esta situação prova a falta de esperança que os EUA possuem em relação ao futuro do Afeganistão.

Uma série de novos destacamentos americanos no Médio Oriente tiveram lugar quase imediatamente após ser anunciado que os EUA se iriam retirar do Afeganistão. Os media afirmam que o país enviou já seis aviões de bombardeamento estratégico Boeing B-52 Stratofortress e estendeu a estadia do porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower na região. O envio do sistema HIMARS do Kuwait para o Afeganistão indica também que o país poderá enviar forças adicionais para o território.

Não é difícil de entender que ao mesmo tempo que retiram forças do local enviam outras. Os novos envios servem para controlar e prevenir a possibilidade das forças talibãs voltarem a criar instabilidade ou cometerem furto de armas. Com equipamentos como estes, seria difícil contra-atacar. Forças restantes da Al-Qaeda podem também atacar, e estes são os únicos que não querem ver os EUA a retirar-se do Afeganistão, além do próprio Governo de Cabul. A presença americana tornava a presença do grupo possível, os EUA ofereciam-lhes legitimidade. Embora os talibãs tenham já afirmado que irão atacar as forças americanas caso estas não se retirem do território, o senso comum indica-nos que a probabilidade de tal acontecer é baixa. E os talibãs estão felizes com a possível saída dos EUA, podendo depois lutar sozinhos contra o Governo afegão, que perde então a proteção do ocidente. As forças talibãs são na verdade uma entidade teocrática político-militar, diferente do Governo afegão, que promove o secularismo e a igualdade étnica. Os dois lados estão em conflito pelo controlo do país há mais de 20 anos, por isso esperar que as duas forças se entendam e partilhem o poder após a saída das tropas americanas é irrealista. Estes conflitos na retirada  das forças americanas indicam um futuro assustador: o dia em que as tropas dos EUA tenham saído por completo do país será o dia em que a guerra do Afeganistão voltará a eclodir.

*Editor Senior

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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