A provável eleição de Joe Biden anuncia o fim do isolacionismo norte-americano; logo, um novo ciclo de relações multilaterais, à escala global. Mas não implica uma aproximação da Casa Branca à China. A tensão entre as duas potências continua, esperando-se novo abraço americano aos países asiáticos que cercam o poder chinês, como fez Obama.
O ciclo Trump beneficiou Xi Jinping, mais aceite na Europa, bloqueada na sua relação Atlântico. O jogo de espelhos muda com Biden, como tudo muda na economia, ao ritmo lento da pandemia. O mundo precisa de alianças, de capacidade de mudança. Biden não transmite essa energia, em si mesmo, mas representa um novo ciclo relacional, inclusivo, mais envolvido na promoção do comércio internacional.
A declaração de Trump, na noite das eleições, sintetiza o paradigma do populismo autoritário: parem de contar os votos senão eu perco… fica para a História do que as democracias ocidentais são hoje capazes de produzir. Mas ao fim de quatro anos, esse estilo caricato e corrosivo ia quase ganhando. O fim de Trump não é o fim do trumpismo, nem do que ele representa num mundo cada vez mais tribal e dividido.
Macau é uma cidade de pontes. Na História, na geografia, na cultura, nas novas realidades da integração regional… A recuperação económica cada vez mais depende da integração regional; e a sua vocação externa, de ponte para mundo português, depende da leitura que Pequim faça desse valor potencial.
A China de Xi nunca foi isolacionista, mas há tensões políticas por resolver; e a pandemia reforça o foco na recuperação do mercado interno. Quanto mais abrir a China ao mundo, mais valor dará às regiões autónomas e às regiões económicas especiais.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA