O Governo teve de adaptar as suas políticas para que a pandemia pesasse o mínimo na conjuntura socioeconómica de Macau. Naturalmente, o setor privado foi o mais afetado pelas decisões. Não obstante, compactuou com as restrições e tentou sobreviver sem horizonte à vista. Houve irritação de muitos, mas no geral foram apoiando o Governo e nunca se chegou a um ponto de não retorno na comunicação – embora não estivesse longe.
Hoje vive-se uma nova realidade; aquela que não se via no horizonte. O privado luta para recuperar os anos de prejuízo, tenta crescer e desenvolver, também para dar resposta às linhas de diversificação do Governo. Para isso, boa vontade não chega.
É preciso que o setor público compreenda que ainda há dificuldades, e em parte delas é responsável.
As políticas e o discurso pandémico têm de ser substituídos. O contexto assim o exige, o prazo da diversificação assim o dita. Negócios pedem que a adaptação à nova realidade seja mais rápida, porque o setor público continua preso nas malhas do passado recente. Esse não serve a Macau, foi construído com caráter excecional, e tem de haver flexibilidade para mudar.
Proteção do emprego local faz sentido, sobretudo quando é feita de forma inteligente. O bloqueio da contratação de não residentes só está a criar um fosso no mercado laboral e nos negócios. O problema é mais grave que isso: sem estrangeiros não há internacionalização, nem diversificação. Os talentos estrangeiros qualificam os trabalhadores residentes. Os não qualificados são a base da economia, e nada funciona a 100 por cento se os postos não forem preenchidos.
O privado percebe isso e tenta meter o pé no acelerador, mas o setor público trava.
O caminho tem de ser paralelo, não pode ser feito a duas velocidades. O Governo precisa do privado para concretizar a diversificação; o privado preciso do Governo para o mesmo.
*Diretor-Executivo do PLATAFORMA
