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Guerra de medos

Guilherme RegoGuilherme Rego*
Guilherme Rego

Entender o que molda o contexto geopolítico internacional é perceber os medos das potências que o despoletaram. Embora os medos sejam reais, são as ações que se tomam para os evitar que os tornam inevitáveis. Há muito que os Estados Unidos consagrou a sua hegemonia no ocidente. Mas faltava algo… nomeadamente cercar a Rússia.

Aliciar a Ucrânia a aderir à NATO instou a resposta de Putin que, tinha medo, e com razão, que a esfera de influência norte-americana se alastrasse para o resto da sua fronteira. Mas a invasão materializou esse medo, agora que a Suécia e a Finlândia, normalmente neutros, avançaram para a adesão à NATO.

Também a oriente, os Estados Unidos têm medo do crescimento chinês. Como tal, cercaram as rotas marítimas da China e ameaçaram a sua segurança com a presença em Taiwan.

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Com certeza também esperam uma resposta desmedida da China, que tem evitado seguir o exemplo russo. Mas também vive com o medo, e com razão, de que não haja limites por parte dos Estados Unidos para bloquear a ascensão chinesa.

Todos estes medos, que são reais e compreensíveis, culminam na realidade que hoje testemunhamos: uma divisão do mundo cada vez maior, cada vez mais agressiva. A China, apesar de condenar a guerra, não condena o agressor publicamente. O dilema é grande.

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Na verdade, nenhum desses cenários satisfaz o crescimento chinês. Por outro lado, o apoio à Rússia, por muito súbtil que seja, reforça a divisão – e isso também não beneficia o país que pretende aumentar a sua influência no globo.

Os Estados Unidos não vão parar. Desligar a guerra atrocida a sua economia e dá via verde para a China ocupar o seu lugar a médio-longo prazo. A Rússia não vai parar. Vai esgotar todas as opções até se dar como vencida – e ainda tem muitas…e perigosas.

A China também não vai parar.

Porque o seu crescimento é inevitável e não há razão para o auto-sabotar em nome de um “bem comum” pregado pelos Estados Unidos.

Todas querem hegemonia e comando sobre a ordem mundial. Mas há guerras em que não há vencedores. Não havendo cedências, não há futuro.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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