Tempestade no Fórum

Os ventos da mudança são contraditórios. Quando quadros de língua portuguesa deixam Macau, diz-se que o novo poder não os quer.
Mas quando são contratados para o ensino, ou os poucos serviços com margem para recrutar, a tese perde racional. O ambiente tenso e o descrédito crescente no Fórum Macau (ver páginas 6 a 8) afeta a narrativa lusófona, varrida na tempestade económica e no bloqueio pandémico.
Mas a China garante que o plano não mudou. Logo, a prática desmente o discurso. E não é agora, na exceção do presente, que se vai estragar o que o passado desenhou para o futuro.
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É preciso saber esperar.
Quando os pés tiverem chão, subir a montanha e ver o horizonte. Retirar o BIR aos delegados do Fórum, sem comunicação diplomática, mecanismos compensatórios… nem dignidade institucional, agride as diplomacias lusófonas – sem nenhuma necessidade.
Uma coisa é cumprir a Lei; outra coisa é fazê-lo queimando a língua e perdendo a face. O Fórum tem a tutela do Ministério do Comércio; é uma peça da diplomacia global, desenhada em Pequim, que pede aos parceiros lusófonos que o integrem.
O poder local tem o direito de atuar. Mas tem também o dever de o fazer com perceção do interesse nacional – e global.
A diversificação de Macau tem o foco na Grande Baía – e bem. Mas é precisamente aí que a ponte lusófona é uma vantagem competitiva. Seja o que for que o momento exige, é prudente fazê-lo sem fechar as portas que Pequim abriu. Não há nada no discurso de Xi Jinping que anuncie cortes com as pontes para o mundo.
Aliás, são tão mais valiosas quanto o ocidente tenta bloquear o crescimento chinês. O que não faz qualquer sentido é ser Macau a provocar incómodos e desconfiança nas diplomacias lusófonas. Cumpra-se a lei da imigração; bem como a contenção de despesas, espere-se que a mobilidade regresse….
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O Fórum peca por muitos motivos, incluindo a incompreensão local sobre o que representa; erros no desenho original e, até, de estratégia. O que Macau não pode é fazer implodir a mensagem que Pequim projeta. A Lei permite que o Chefe do Executivo atribua o BIR em casos excecionais.
Pode ponderar fazê-lo. Mas no mínimo pode sempre fazer política, criando mecanismos compensatórios e uma ética diplomática que atravesse a tempestade.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA