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Próxima fase: ajustar programas curriculares à realidade sanitária

Bebiana CunhaBebiana Cunha*

Desde logo, parto da pergunta que se impõe: o Ministério da Educação está a preparar os alunos para um “mundo que já não existe”? Perante um futuro incerto, está a educar as crianças e jovens para a imprevisibilidade, mudança, adaptação, empatia e responsabilidade coletiva? No papel, sim! Mas quando se trata de políticas que o permitam e facilitem: Não! Senão vejamos: no Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória considera-se fundamental que a escola habilite “os jovens com saberes e valores para a construção de uma sociedade mais justa, centrada na pessoa, na dignidade humana e na ação sobre o mundo enquanto bem comum a preservar”.  Com uma escola tão condicionada por extensas matérias, provas, tempos e metas, não pode a Escola cumprir este desiderato. Atentemos num exemplo muito concreto: do ponto de vista ambiental está previsto ensinar a importância da relação com o ambiente, mas as aulas funcionam em espaços fechados, sem contacto com a vida natural. Não há uma política educativa que promova na prática os valores ambientais que se defendem nos manuais. 

Atentemos noutros exemplos: os alunos mais novos têm de ficar sentados horas excessivas numa fase de desenvolvimento físico e emocional que não se coaduna com esta exigência. Com trinta alunos e uma enorme diversidade individual na sala aula, os professores não podem trabalhar para, e com o indivíduo. A redução de turmas deveria ter sido uma prioridade e já ser uma realidade.

Vivemos uma crise sem precedentes e nem isso faz mudar as políticas públicas de educação em Portugal!

Talvez devêssemos exigir um perfil de saída da escolaridade obrigatória para o Ministro da Educação que, num momento em que devia dizer que vamos ajustar os currículos aos constrangimentos únicos que vivemos, diz que o que importa é repor as aulas, possivelmente para que se pense que encara o assunto com seriedade, reafirmando a ideia de que para o responsável das políticas da educação em Portugal  o importante é sempre a quantidade e não a qualidade de conteúdos. Este é um ministro que não antecipa, não resolve, não se adapta: se a mudança antes já passaria por rever programas curriculares com vista à redução rigorosa de conteúdos, agora faz mais sentido do que nunca, nomeadamente naquilo que é possível, ou seja rever metas a atingir, rever domínios, rever programas, com rigor, sem deixar que isso se confunda com facilitismos ou passagens administrativas.

Num estudo do Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC)35% dos alunos diz gostar menos da escola por causa das aulas. 87% associa este descontentamento a demasiada matéria e 85% ao facto de considerarem a matéria aborrecida. Os estudantes de hoje são diferentes de outras gerações!  Hoje já não é tão importante o que sabemos, mas o que fazemos com o que sabemos. Não faz sentido que a escola seja essencialmente para debitar informação, ou para privilegiar a memorização. O foco terá que ser compreender, analisar, definir perspetiva crítica, mais do que o saber em si mesmo. É evidente que um dos passos para tal é o de rever programas curriculares e reajustá-los às faixas etárias e níveis de desenvolvimento cognitivo, ajustá-los às exigências do futuro: vivemos uma crise sem precedentes e nem isso faz mudar as políticas públicas de educação em Portugal!

*Deputada do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) – Portugal

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