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Novas tensões entre o Irão e os Estados Unidos

A situação no Médio Oriente continua a agravar-se após o ataque mortífero dos Estados Unidos. Atualmente, tanto os Estados Unidos quanto o Irão fazem ameaças de retaliação. O Irão alega planos de atacar 35 alvos dos EUA, e o presidente norte-americano Donald Trump disse ter escolhido 52 áreas específicas como alvo de ataque. É preocupante a perspetiva de um conflito feroz entre estes dois países, preocupando a população logo desde o início do ano e fazendo de 2020 um ano potencialmente sangrento.

Estes sinais levantam preocupações, mas puramente em termos de força militar, os Estados Unidos e o Irão são muito diferentes. Se as duas partes decidirem entrar numa batalha feroz, dificilmente o Irão sairá vencedor. Mas a guerra nunca foi uma questão de duas nações. Os interesses por trás da estratégia de cada um fazem dela uma guerra complexa e confusa. 

Os Estados Unidos são atualmente a força económica e militar mais poderosa do mundo. Nos últimos anos, as forças armadas dos EUA invadiram o Iraque, o Afeganistão e a Líbia. No entanto, desde o final da guerra do Iraque há 16 anos, as forças armadas dos EUA nunca provocaram uma guerra de larga escala. Mesmo agora que a Síria é praticamente controlada pela Rússia, os Estados Unidos não demonstram grande interesse. 

Na verdade, os Estados Unidos não são tão fortes como seria de desejar. Com a guerra do Iraque, os EUA gastaram três biliões de dólares e sacrificaram a vida de dezenas de milhares de soldados americanos. No enorme cemitério que se tornou o Afeganistão, os Estados Unidos gastaram também 3 biliões de dólares, e até hoje a situação continua deplorável. A dívida dos EUA já ultrapassa os 22 biliões, por isso, atualmente, o país tem de ser cauteloso no que diz respeito a disputas militares, e um conflito com o Irão traria consequências difíceis de suportar. 

Primeiro, a força militar do Irão é muito maior do que a força do Afeganistão e do Iraque na época do conflito, com um milhão de tropas regulares, dois milhões de forças de reserva, uma população de 80 milhões e um enorme potencial para a guerra.

Em segundo lugar, a geografia complexa do Irão não é propícia aos ataques aéreos que são a especialidade da NATO, já que o país possui uma área terrestre enorme e com características particulares em termos militares. Um ataque terrestre é impossível, e as águas estreitas do Golfo Pérsico também não são um território vantajoso para forças navais de águas distantes. Quanto aos ataques aéreos, mesmo que os EUA destruam todos os mísseis, isto não colocará um ponto final na guerra. Sendo assim, para derrotar este adversário, a única forma possível parece ser o ataque nuclear. Contudo, o resto do mundo não irá continuar calado quando isto acontecer, e as consequências de tal ataque serão impossíveis de suportar para os EUA. 

Em terceiro lugar, o Irão é uma teocracia, o que difere do Iraque e da sua disputa religiosa sectária. Os xiitas do Irão ocupam uma vantagem absoluta, e sua ideologia nacional é altamente fanática. Os iranianos estão dispostos a sacrificar a vida pelo país, e isto está na origem da tremenda força militar do Irão. Para além disso, o Irão possui atualmente mais de dois mil mísseis de vários tipos, incluindo balísticos de médio alcance com a capacidade de atingir o Médio Oriente, assim como mísseis antinavio que podem atingir o Estreito de Ormuz. Para ocultar a sua força, o Irão irá transferir a produção e armazenamento de mísseis para o subsolo, e este é um dos fatores que mais apavora os Estados Unidos. Assim que os Estados Unidos abrirem guerra, vários aliados do Médio Oriente serão arrastados para o conflito, como Israel, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Para além disso, os aliados dos Xiitas como o movimento Houthi, Hamas e Hezbollah irão também retaliar, causando consequências desastrosas que são difíceis de imaginar. Ao mesmo tempo, de forma a conter o movimento militar dos EUA, a Rússia também terá, de forma clara ou dissimulada, de apoiar o Irão. Por isso, a vitória dos Estados Unidos numa possível guerra contra o Irão é tudo menos certa, mas o que é certa é a criação de mais um complicado conflito e o declínio dos EUA como grande superpotência, e as atuais ameaças mútuas são apenas o bluff de demonstração de poder. 

David Chan 10.01.2020

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