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“Indústria de tecnologia deve registar progressos substanciais nos próximos anos”

A BoardWare tornou-se a primeira empresa de serviços de tecnologia de informação local a ser listada na bolsa de Hong Kong. Em entrevista ao PLATAFORMA, o diretor executivo, Nick Ng Hong Kei, vê com otimismo o plano de diversificação económica para a cidade. À boleia desse apoio insitucional, considera que Macau vai progredir a nível das tecnologias e recuperar do “atraso” em que se encontra. Não obstante, salienta aquilo que vários empresários têm reforçado: “Macau não possui muitas vantagens competitivas” na atração de talentos

Viviana Chan

– O Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia da Região Administrativa Especial de Macau (2024 – 2028) menciona várias vezes a promoção do desenvolvimento da ciência e tecnologia em Macau. Qual é a sua opinião sobre o documento?

Nick Ng – A versão final do plano fez alguns ajustes em comparação com o texto da consulta pública e incorporou as opiniões dos residentes. Mais especificamente, o plano foi refinado em termos de aplicação, como “Tecnologia + Turismo”, que requer que as concessionárias de jogo apoiem a indústria de inovação e tecnologia. Ao mesmo tempo, também inclui a modernização de indústrias tradicionais através do uso de tecnologia. Essas mudanças são positivas porque o desenvolvimento tecnológico precisa de ser impulsionado por aplicações práticas.

– O plano propõe especificamente que “o valor da produção da indústria de ciência e tecnologia de Macau aumente gradualmente” até 2028. Consegue indicar qual o estado atual do desenvolvimento tecnológico de Macau e qual é a sua proporção na economia?

N.N. – Como o alcance da indústria de tecnologia é relativamente amplo e as indústrias tradicionais precisam de tecnologia para se modernizar em termos de produção inteligente, é difícil isolar a proporção do desenvolvimento tecnológico e expressá-la em números concretos. Atualmente, o Governo precisa de ter estatísticas que permitam entender a escala das empresas de tecnologia existentes em Macau e fornecer uma plataforma de comunicação para a indústria expôr as dificuldades encontradas no processo de desenvolvimento.

“Atualmente, Macau não possui muitas vantagens competitivas [atração de talentos], sobretudo quando olhamos para Hong Kong ou Singapura”

De acordo com o plano, a meta proposta de “aumento gradual na produção de tecnologia” é positiva, especialmente quando combinada com o sistema de atração de talentos existente. Acredito que a entrada adicional de novos talentos em Macau promoverá o desenvolvimento da indústria de tecnologia local, e que veremos definitivamente progressos substanciais nos próximos anos.

Além disso, o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia vai providenciar apoios a empresas e académicos, o que é um suporte relativamente forte para as empresas. Embora possa levar mais tempo a ver os resultados desses projetos financiados, é mais apropriado avaliá-los ao longo de um período de cinco anos. Sob o plano, espero que mais conquistas científicas e tecnológicas sejam alcançadas até 2028.

– Mencionou que o novo sistema de atração de talentos pode ajudar o desenvolvimento tecnológico da RAEM. As condições oferecidas em Macau são suficientes para atrair os profissionais necessários?

N.N. – Precisamos de fazer uma distinção entre talentos académicos e industriais. No campo académico, é relativamente fácil para Macau atrair os talentos relevantes, especialmente para algumas universidades e laboratórios de referência do Estado, que podem oferecer pacotes de remuneração relativamente atraentes. No entanto, no setor industrial, precisamos de nos alicerçar na vantagem de Macau como plataforma internacional para atrair empresas de tecnologia em grande escala; estas podem atrair mais profissionais. Devem ser precisos mais três ou quatro anos para cultivar ou atrair talentos industriais. Atualmente, Macau não possui muitas vantagens competitivas nesse aspeto, sobretudo quando olhamos para Hong Kong ou Singapura.

– Estudos anteriores apontam para uma falta de consciência das empresas e organizações de Macau em matéria de cibersegurança. Como especialista da indústria, acha que este é um problema sério da cidade? Como pode ser melhorado?

“Macau está atrasado na área da cibersegurança, pois só introduziu formalmente a Lei de Cibersegurança
em 2019. Os profissionais de cibersegurança disponíveis em Macau, as leis e regulamentos de apoio, são
relativamente insuficientes”

N.N. – É verdade que as empresas de Macau têm pouca consciência de proteção digital. Macau está atrasado na área da cibersegurança, pois só introduziu formalmente a Lei de Cibersegurança em 2019. Os profissionais de cibersegurança disponíveis em Macau, as leis e regulamentos de apoio, são relativamente insuficientes. Desde a promulgação da lei, as organizações reguladas pelas leis e regulamentos de cibersegurança aumentaram gradualmente a sua consciência, mas as pequenas e médias empresas não reguladas ainda não prestam atenção a este assunto. As principais razões para isso incluem a perceção de que não é problema delas e a ausência de trabalhadores de informática nessa área, devido à dimensão dessas empresas. Atualmente, estamos a trabalhar com várias universidades e organizações para oferecer treino em cibersegurança e aumentar a conscientização pública.

– A sua empresa está envolvida na exposição de experiência digital imersiva das Ruínas de São Paulo, desenvolvida pelo Instituto Cultural de Macau. Qual é o potencial do “Turismo+Tecnologia”?

N.N. – A tecnologia de experiências imersivas é amplamente usada em todo o mundo. Combinar essa tecnologia com a cultura para promover o turismo local é onde está o potencial de Macau. A cidade possui muito património rico em elementos culturais e históricos – elementos indispensáveis na promoção da estratégia “Turismo + Tecnologia”. Após a pandemia, muitas pessoas começam a procurar esses elementos turísticos. Há certas zonas históricas de Macau que estão constantemente a ser redescobertas, como prédios antigos, histórias ricas que podem ser melhor apresentadas por meios tecnológicos, ou até mesmo recriadas.

– Muitas empresas de Macau, tal como a BoardWare, abriram filiais em Hengqin, esperando expandir o seu mercado no interior da China. Como foi a experiência de abrir uma sucursal na Zona de Cooperação Aprofundada?

N.N. – Hengqin é uma boa plataforma para as empresas de Macau entrarem no mercado continental. Porque são pequenas, as empresas de Macau enfrentam grandes desafios ao querer operar no interior da China, tanto em termos de ambiente de negócios, como de compreensão do sistema. Hengqin oferece um equilíbrio entre os métodos e sistemas de Macau, ao mesmo tempo que fornece políticas governamentais favoráveis ao desenvolvimento das indústrias. Atualmente, acredito que algumas das políticas do plano de desenvolvimento de Hengqin devem ser implementadas o mais rápido possível, para que as empresas de Macau possam desenvolver-se de modo mais célere. Além disso, as empresas de Hengqin podem também tornar-se numa plataforma para o desenvolvimento de talentos. Se o plano de atração de talentos do Governo de Macau for estendido até Hengqin, isso seria um grande ajuda para as operações empresariais.

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