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Melhorias no plano não chegam

Guilherme Rego*

Para quem esperava um plano detalhado, sai desapontado. O caminho da diversificação económica nos próximos cinco anos é “apenas um rumo”, como fez questão de sublinhar o diretor dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional. Há pontos positivos, como a aposta no desenvolvimento do ensino superior, com números concretos. Porém, grande parte dos objetivos macro não são tangíveis. No fim do dia, comprometem-se apenas a “melhorar” o que está a ser implementado.

O plano estabelece que a indústria financeira representará 10 por cento do PIB de Macau em 2028. Ótimo. Por um lado, revela que o setor está num bom caminho para crescer e ser uma das grandes apostas. Por outro, é a única indústria em que discriminam o peso que terá daqui a cinco anos. Revela muito do ainda longo percurso que os restantes setores da diversificação terão de fazer para pesar no PIB. Sobre estes, fala-se de “mais projetos”, “melhorias”, “aprofundar…”, nada palpável. Várias áreas comparam-se aos números feitos em 2022, ignorando o facto de ser um ano completamente atípico (pandemia).

Quanto ao jogo, quer-se o equivalente a 40 por cento do valor acrescentado bruto – menos 10 por cento que em 2019. E o grau de dependência das receitas correntes a “menos do que em 2019”, quando atingiu 84,8 por cento. Naturalmente, apresentar uma dependência igual ou maior – mais ainda com os limites agora impostos à atividade – seria um total fracasso da diversificação económica de Macau. Mas fazer “menos” não é propriamente um objetivo ambicioso – qualquer otimização cheira logo a sucesso. Outro dado preocupante é a projeção para 2028 de o mesmo número de empregos fora do jogo. A diversificação não cria empregos? O jogo vai continuar a representar 20 por cento da população empregada?

É suposto concretizar a diversificação adequada até 2035, o que por si só, com as mudanças que Macau sofre a nível político e socieconómico, já representa um desafio herculeano. A cidade tem praticamente 11 anos para meter mãos à obra – e cumprir. Pergunto: não é necessário ser mais preciso? A diversificação não se tornou tema nem objetivo com a chegada das novas concessões. Melhorias são ótimas e sempre bem-vindas. Proporcionar mais oportunidades de crescimento ao setor privado também. Mas os prazos estão definidos, e sobre a premissa que as indústrias não jogo vão representar 60 por cento do VAB. Macau tem de ser ambicioso, e tem de trabalhar sob metas concretas. Só assim se consegue. Caso contrário, em 2035, estaremos a apresentar a Pequim uma economia que só mudou na semântica. A autonomia regional para lá de 2049 prende-se nestes detalhes. Se os resultados não servem os interesses nacionais, perde-se a margem para ser diferente.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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