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A reconquista de Portugal

Nelson SilvaNelson Silva*

É Agosto. Tempo de férias, praia, mergulhos no mar, areia entre os dedos. Para mim é sempre o tempo perfeito para descobrir Portugal. Devo confessar que sou um verdadeiro apaixonado pelo nosso país, não pelo conceito de Nação no sentido estrito da palavra, mas do sentimento que as paisagens, que as gentes e que as culturas locais nos conferem. E Agosto é o momento para entrar Portugal adentro e ver o que ninguém vê, sentir o que ninguém sente.

Desde pequeno que me considero um “filho da ilha”, pelos verões passados na lindíssima Ilha da Culatra no Algarve, mas sempre quis ver o que o interior tem para oferecer, e assim que me apanhei com 18 anos, todos os anos tentei perder-me no Portugal profundo. O país que fui encontrando deixou-me boquiaberto com a beleza natural mas também com a simpatia e amabilidade das gentes da terra, o que contrastava com a tristeza do processo de desertificação do interior de Portugal. Aldeias inteiras desertas ou com apenas uma pessoa que ficou para trás, e que mantém a custo os jardins com a beleza de outrora.

Escrevo este texto do Douro Vinhateiro, mais precisamente da Aldeia de Barcos, município de Tabuaços, local onde felizmente existe uma vida muito ativa, existe juventude a par e passo com as pessoas de outros tempos. E vejo também os novos conquistadores de Portugal, com os seus 30 e poucos anos, a maioria de Lisboa e Porto, que decidiram abandonar a vida na cidade pelo interior do país. Pergunto o que os fez mudar e a resposta é sempre a mesma, que eu próprio também considero: quiseram dar nova vida a Portugal e melhorar a sua qualidade de vida dentro de um meio comunitário por natureza. E assim têm feito, centenas de jovens adultos por esse país fora.

Uma senhora que se encontra na esplanada de onde vos escrevo, e de onde a vista para as montanhas do distrito de Vila Real é absolutamente arrebatadora, fala da felicidade que sente em voltar a ouvir crianças o ano inteiro na aldeia e dos anos de vida que isso lhe dá. É fácil perceber a emoção. A tendência é uma maior desertificação do interior do país, que se encontra vazio e que os censos 2021 vieram confirmar. E se há algo que defendo há décadas é de que para uma efetiva adaptação às alterações climáticas, é fundamental desurbanizar e deslitoralizar o país. E o interior é a melhor opção para o fazer. Com isto não quero dizer que vamos desertificar o litoral do país, mas sim que ter mais de 94% da população portuguesa a viver amontoada no litoral não é de todo sustentável. É urgente criar uma estratégia de re-povoação do interior do país, muito à semelhança do que os “reconquistadores” têm feito a título individual.

Não só o Estado tem de intervir, mas deve essencialmente movimentar a sociedade civil e empresarial para descentralizar os seus postos de trabalho. Obviamente que com isto aumentará a exigência de infraestruturas e habitação de apoio a esses residentes e empresas.

Essa deve ser uma das grandes prioridades do nosso Governo, para que não se continue a apostar em zonas que dentro em breve estarão debaixo de água como é o caso de grande parte da costa portuguesa. Por isso digo o que sempre disse e defendo o que sempre defendi: repovoar o interior não é somente uma mudança de estilo de vida, mas sim a futura bóia de salvação de mais de 94% da população residente em Portugal. Repovoar o interior é salvar o país.

*Deputado do PAN

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