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A herança pró-democrática de Macau

Depois das eleições legislativas de 17 de setembro, os pró-democratas e os seus apoiantes poderão respirar de alívio. Não só os dois deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San puderam ser reeleitos, mas também Sulu Sou da Associação de Novo Macau conseguiu tornar-se no membro mais jovem de sempre da Assembleia Legislativa, mesmo enfrentando uma série de situações de propaganda negativa e difamação.

Para os apoiantes dos pró-democratas, Sulu Sou talvez represente o futuro da liderança pró-democracia. Efetivamente, depois das eleições, Ng Kuok Cheong e Au Kam San referiram que nas próximas legislativas não irão fazer parte da linha da frente eleitoral, dando lugar às gerações mais jovens. É possível prever que dentro de quatro anos os líderes pró-democratas de Macau constituirão uma nova geração.

Com a eleição de Sulu Sou e a futura saída de Ng Kuok Cheong e Au Kam San, vemos o processo de sucessão da liderança pró-democrata entrar na última fase. Como observador de longa data da situação política em Macau, a minha atenção recai principalmente sobre a forma como os pró-democratas irão percorrer esta via de sucessão.

Para averiguar o desenvolvimento da oposição em Macau nos tempos modernos, podemos começar nos anos 1980, com Alexandre Ho, da Flor de Amizade e Desenvolvimento de Macau (FADEM). Na altura, a FADEM fornecia nas ruas serviços sociais, obtendo um grande apoio político, o que colocou uma grande pressão sobre as listas tradicionais e as levou a aplicar uma grande quantidade de recursos para fornecer à população ainda mais serviços. Ao mesmo tempo, Ng Kuok Cheong e outros da sua geração começavam a tornar-se cada vez mais ativos na sociedade de Macau, seguindo os desenvolvimentos da democracia local. Ng Kuok Cheong chegou até a ter algumas oportunidades de colaboração com Alexandre Ho. Posteriormente, os serviços sociais fornecidos pelas listas tradicionais continuaram a crescer, e Ng Kuok Cheong, juntamente com as gerações mais jovens, começou a colocar em questão este método, acreditando que a longo prazo seria impossível à oposição competir com os recursos e serviços das listas tradicionais. Por fim, decidiram adotar a estratégia “largar a terra, agarrar o céu”, fiscalizando o Governo através de debate político especializado. Nas eleições legislativas de 1996, a eleição de Ng Kuok Cheong e a derrota de Alexandre Ho confirmaram que as estratégias lançadas pela Associação de Novo Macau tinham-se tornado na nova corrente ideológica da oposição, e Ng Kuok Cheong e Au Kam San tornaram-se as figuras centrais dos pró-democratas.

Este período histórico possui semelhanças com os dias de hoje e com as divergências entre os pró-democratas quanto às vias a seguir. Com a entrada na Assembleia de Sulu Sou, defendendo uma nova linha política, isso fará ou não com que o público comece a apoiar uma via progressista? E as divergências políticas entre os pró-democratas serão uma repetição da situação de há mais de duas décadas? Esta via progressista conseguirá ou não obter gradualmente o apoio dos cidadãos de Macau, fazendo com que a ideologia do grupo de Sulu Sou se torne na corrente principal dos pró-democratas? Será esta a única forma de sucessão de liderança para os pró-democratas em Macau? Ou seja, usando as eleições legislativas como plataforma, deitar fora o velho e estabelecer uma nova estratégia e liderança através dos votos.

Por outro lado, quando chegar a altura de Ng Kuok Cheong e Au Kam San deixarem a linha da frente, irão ou não escolher um novo grupo de sucessores que continue nos caminhos que traçaram? Nestas eleições legislativas, Ng Kuok Cheong e Au Kam San levaram consigo elementos da nova geração, elementos esses que também possuem boas capacidades de debate político. Irão ou não estes continuar a sua atividade política nos próximos quatro anos, construindo uma imagem pessoal e obtendo o apoio popular, carregando desta forma a tocha de Ng Kuok Cheong e Au Kam San? A coexistência da linha política de Ng Kuok Cheong e Au Kam San com a linha progressista poderá alargar o panorama político pró-democrático.

Vale a pena lembrar que, nestas eleições, as listas de Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Sulu Sou obtiveram 30,674 votos, mais do que os 23,041 de 2013 e os 27,448 de 2009. Olhando para a percentagem dos votos obtidos, em 2017 foram 17,8 por cento, mais do que os 15,7 por cento de 2013 mas menos do que os 19,4 por cento de 2009. Podemos dizer que nestas eleições os pró-democratas conseguiram recuperar alguns dos votos que perderam nas eleições anteriores. Contudo, com o aumento do número de votantes em todas as eleições, será a taxa de apoio capaz de acompanhar o crescimento? Apenas com um aumento da percentagem de votos será possível garantir o desenvolvimento da linha pró-democrata. Na verdade, nestas eleições também surgiu um novo grupo de forças moderadas (como Agnes Lam e Ron Lam U Tou), e estas novas forças políticas poderão tornar-se nos novos adversários da linha pró-democrata. Ficando para trás Ng Kuok Cheong e Au Kam San, poderão estas duas linhas crescer juntas, ou poderá apenas uma subsistir? Poderão os apoiantes de uma transitar para a outra, fazendo-a perder a sua auréola política? Todas estas são questões que os líderes pró-democratas devem ponderar neste processo de sucessão. 

Eilo Yu*

*Professor associado do Departamento de Governação e Administração Pública da Universidade de Macau

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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