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Paulo Rego – O FUTURO JÁ TEM DISCURSO

 

Um mês após a tomada posse, o novo governo de Chui Sai On imprime uma comunicação política e um compromisso com objetivos deste novo mandato que em tudo diferem dos últimos anos da governação em Macau. Por circunstâncias do seu perfil pessoal, mas também por terem consciência do alto grau de expectativa que as suas pastas envolvem, Alexis Tam e Lionel Leong vão-se assumindo como principais protagonistas de uma mudança radical na cultura de governação, quer na forma quer no conteúdo. O primeiro, que tem a seu cargo áreas tão sensíveis como a saúde, a educação e a cultura, assume sem pruridos nem meias palavras a responsabilidade de elevar o bem-estar e a qualidade de vida da população, tentando com isso recuperar a harmonia social e política de um governo que estava em clara queda de popularidade. O segundo, que terá de ajudar a indústria do jogo a reciclar os seus modelos de negócio, projeta em simultâneo um futuro que terá de aproveitar as oportunidades oferecidas pela integração regional e pela ligação aos mercados lusófonos, diversificando a economia de molde a libertar a cidade da excessiva dependência que tem dos casinos.

Entre os discursos políticos, a atitude dos governantes e a sua real capacidade de concretizar os objetivos que anunciam, vai sempre uma longa distância. E essa está ainda longe de ter sido percorrida. Mas em qualquer parte do mundo, e por maioria de razão numa cidade de reduzidas dimensões, o tecido empresarial tem uma tendência natural para adaptar os seus planos de negócio e promover investimentos no sentido dos sinais que emanam do Executivo. Nesse contexto, os primeiros 30 dias do segundo mandato de Chui Sai On têm o valor incontornável de assumir os problemas que de facto existem, concentrando-se na procura de soluções. A novidade não está propriamente nos conceitos estratégicos, agora assumidos com uma clareza que antes não se via, porque são sobejamente conhecidos e consistentemente repetidos pelo Governo Central. O que é novo é que agora eles são expostos de forma inequívoca, tendo com isso o condão de descansar Pequim e de orientar o tecido empresarial local, bem como a gestão das famílias e as opções individuais.

Não raras vezes os políticos optam por baixar expectativas, defendendo-se do ónus eventual das promessas não compridas. Não tem sido esse o caso, com especial destaque para a atitude pública de Alexis Tam, acompanhado de forma quiçá mais discreta, mas não necessariamente menos ativa, por Lionel Leong. É verdade que a quebra de confiança vivida nos últimos cinco anos exige ação – e não contenção. Mas isso não retira o mérito de quem sabe interpretar o presente, adaptando as suas agendas setoriais e o seu estilo pessoal à representação de um futuro que possa ser entendido pela população e acompanhado pelos agentes institucionais, orientando também a sociedade civil em geral.

Nada muda de um dia para o outro. Na expressão feliz de Lionel Leong, é preciso tempo e esforço para fazer reset ao mindset vigente, a começar pelos próprios gabinetes políticos e funcionários públicos. Será também preciso reciclar as forças económicas tradicionais, viciadas numa economia rentista e num passado de influência descabida nas decisões políticas estruturantes. A posição em que Alexis Tam e Lionel Leong se colocam, como agentes da mudança e da modernidade, é aquela que corre mais riscos teóricos, porque podem catalisar em si a fatura de eventualmente falharem. Mas essa é também a circunstância que a ambos abre caminho a que o futuro lhes pertença. Ou seja: um futuro que faça sentido, que conquiste a população e empurre Macau para um destino de luz, será também o futuro que ilumina os arautos da sua construção.

 

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