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Li Yong – ÁGUA ‘LIMPA’: RECEBA A ÁGUA DA NATUREZA, USE-A E TRATE-A ANTES DE A DEVOLVER

 

A água que utilizamos quotidianamente é recolhida bruta na fonte (massas de água de superfície), passa depois por um processo de tratamento e é, então, distribuída pelos consumidores.  Deste processo resulta um residual estimado geralmente entre  80% e 90% do volume inicial de captação; caso não seja objecto de tratamento para que possa ser reusado, este volume de água regressa por descarga às massas de água receptoras. Embora parcial, este é o segmento ambiental relevante no ciclo da água.

O tratamento das águas residuais é, pois, uma fase essencial no ciclo do ‘precioso’ líquido, cujo propósito, em síntese, é o de reduzir os níveis de poluição do volume de águas residuais que regressam ao eco-sistema. Cerca de 70% da superfície da Terra estão cobertos por água, pelo que, proteger os recursos hídricos é obviamente um aspecto fundamental na conservação dos recursos naturais e na protecção do meio ambiente.

Se tratadas de forma inadequada, as águas residuais vão agravar os problemas de poluição nos meios receptores, tais como reservatórios, rios ou mares. Em Macau, já foi possível observar de perto uma situação de poluição nas águas circunvizinhas, que, para além dos maus odores, determinou um incidente de lamas negras (black sludge) depositadas extensivamente nas margens. Foram poucas as pessoas que não suspenderam as actividades desportivas ou mesmo os simples passeios na zona ribeirinha.

Acrescente-se que a poluição dos cursos de água pode determinar o aumento indirecto ou derivado da poluição atmosférica. Mais uma razão para que a colecta e o tratamento das águas residuais sejam realizados segundo os métodos mais apropriados.

O tratamento das águas residuais é uma etapa fundamental para proteger a qualidade da água. Por exemplo, alguns rios recebem a montante  águas residuais já tratadas, sem prejuízo da segurança da captação de água a juzante; tanto mais significativa é esta opção se ponderarmos que utilizar a água bruta de rios poluídos exige a utilização de sistemas de tratamento extremamente dispendiosos, mesmo incomportáveis. De facto, a maioria das cidades recorre à captação em massas de água de superfície, como os rios ou reservatórios. No caso de Macau, a água provém da rede fluvial  a oeste, na província de Guangxi, desviada sucessivamente por uma rede de reservatórios em Guangdong até ao destino final na RAEM. Deste modo, gera-se uma interdependência entre as cidades incluídas nesta rede de distribuição, na medida em que cada uma espera que a montante sejam assegurados os padrões de tratamento das águas residuais descarregadas ao longo do sistema.

As estações de tratamento de águas residuais urbanas podem ser divididas em primárias, secundárias e terciárias. As estações de tratamento primário utilizam processos preliminares de gradeamento ou peneiragem a que se segue a sedimentação primária; as de grau secundário operam essencialmente no tratamento biológico das águas residuais e na sedimentação secundária.

Finalmente, as estações de tratamento terciário procedem ao tratamento do efluente secundário de modo a que este atinja os níveis de qualidade necessários à sua re-utilização limitada.

Na RAEM, todas as três ETAR em actividade, Macau, Taipa e Coloane, são estações de tratamento secundário e obedecem os padrões de qualidade dos efluentes em vigor ao tempo da sua instalação na década de 90. Estes padrões são muito menos exigentes do que os contemplados na classe 1B para os indices de poluição admitidos na descarga das águas residuais tratadas numa estação secundária (GB 18918-2002). Os parâmetros geralmente utilizados para avaliar a concentração de poluentes nas águas residuais incluem a determinação dos níveis de oxigénio COD, BOD, e o índice TSS de partículas. Se comparararmos os padrões adoptados na RAEM e a qualidade dos efluentes exigida na China, respectivamente, constatamos um intervalo relevante: 150 mg/l, 40 mg/l e 60 mg/l contra 60 mg/l, 20 mg/l e 20 mg/l.

Macau deverá atingir dentro de alguns anos os  padrões adoptados a nível nacional (1B). No caso da ETAR da Península de Macau, que assegura o tratamento de cerca de 75% das águas residuais urbanas, o upgrade para o nível 1B resulta da introdução da tecnologia MBR (membrana biológica). O efluente resultante poderá, depois de uma fase dita de desinfecção, ser re-utilizado como água para rega e para algumas fases de lavagem com água ‘limpa’.

Há pessoas que privilegiam negativamente o impacte ambiental de uma ETAR urbana, embora a ETAR se destine precisamente a proteger o meio ambiente. Dependendo da qualidade do projecto, do design, do nivel tecnológico e dos padrões da operação, o impacte ambiental de uma ETAR pode ser reduzido até ao ponto em que os cidadãos o considerem insignificante. De facto, a própria presença de uma ETAR pode passar despercebida quando integrada em determinados projectos de arquitectura, como, por exemplo, a grande ETAR adjacente ao Aeroporto Internacional de Changi, Singapura. Milhares de viajantes passam por ali todos os dias, e, se ninguém os alerter para a sua existência, não dão pela presença da Estação de Tratamento de Águas Residuais. Uma ETAR até poderia ‘passar’ por um edifício de escritórios…se não houvesse constrangimentos financeiros.

 

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