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José Drummond – “ONDE É A CHINA?”: UMA VISÃO PESSOAL

 

A exposição “Onde é a China?”, que foi inaugurada a 16 de maio em Pequim, e a 29 do mesmo mês em Lisboa, é um momento ímpar nas relações artísticas entre os dois países. É a primeira – com esta dimensão – a reunir artistas chineses de primeira linha, tendo a maior parte deles representado o seu país na Bienal de Veneza, juntamente com artistas de Macau, aos quais se juntou um número semelhante de artistas de Portugal. A escolha dos artistas da China e de Macau foi da minha inteira responsabilidade. No contexto da exposição, entendi que faria sentido, seria interessante e da maior importância para a arte de Macau que os artistas locais pudessem apresentar trabalhos seus junto de nomes tão sonantes como Zhang Huan, Song Dong, Yin Xiuzhen, Xing Danwen, Chen Shaoxiong, Wang Qingsong e Cui Xiuwen.

Fi-lo com a noção de risco que corri. Libertar um certo número de lugares para artistas muito menos conhecidos, tanto na China continental como em Portugal e no resto do mundo. Assumi esse risco por acreditar na arte de Macau e por acreditar que os artistas da Região precisam exatamente de aparecer neste tipo de eventos. Precisam de começar a serem apreciados para lá da concha da própria cidade. Poderia ter ficado por escolhas seguras da China continental, resguardado em nomes como os que referi anteriormente. Poderia com isso até reunir maior consenso junto da crítica especializada em Pequim, em Lisboa ou m qualquer outra parte. Mas não foi isso que eu fiz! Arrisquei para que a arte de Macau pudesse ter mais uma oportunidade!

 

APOSTA GANHA

 

Apostei em trazer a arte de Macau para o seio da exposição e fiz tudo para que fosse vista no mesmo patamar da arte chinesa e portuguesa. Esta não é a primeira vez que o meu trabalho junto a artistas de Macau passa por lhes dar maior visibilidade fora de portas. E não será a última.

Sendo vice-presidente da associação “Art For All”, durante os últimos cinco anos vivi de muito perto inúmeras situações e sei bem as dificuldades que enfrentam os artistas locais. Apostei por ter uma noção de dever para com a cidade que me recebeu e acolheu como pertencendo a ela. Fi-lo por gratidão para com a comunidade artística de Macau, que tem demonstrado um afeto especial para comigo e que sempre me tem apoiado. Mas também porque os artistas de Macau merecem mais e merecem oportunidades como esta.

Se as escolhas recaíram sobre um género artístico mais específico há uma explicação para isso. Quando surgiu a oportunidade de termos duas exposições em simultâneo – Pequim e Lisboa – revelou-se necessário selecionar trabalhos que pudessem ser reproduzidos, ou que, pelo menos, fossem de séries semelhantes. Daí a relevância dos trabalhos em vídeo, da fotografia ou das instalações que podiam ser replicadas.

Considero-me essencialmente um artista, pelo que quando encarno a função de comissário de uma exposição ecoa-me sempre uma frase na cabeça. “To curate is to take care.” Abandono o meu próprio interesse e ajudo, tomo conta, preocupo-me, faço com que as coisas aconteçam! Tenho capacidade de dialogar com o mais variado número de pessoas, faço-o com naturalidade mas sem perder a minha identidade.

O desafio lançado pelos outros dois comissários, Luís Alegre e Nuno Aníbal Figueiredo, provou ser uma aposta ganha. Como foi a minha opção em incluir os artistas de Macau, que assim voltam a ser o ponto de ligação entre a China e Portugal.

Num contexto atual de importância crescente da China no mundo, esta exposição centra-se naquela que será uma das questões essenciais no futuro próximo. À resposta simples, assente nas coordenadas geográficas, sobrepõe-se aquela que contradiz a realidade cultural e geopolítica contemporânea, que nada tem de estável nem de previsível: “Onde é a China?”. Será em qualquer lugar, ou em lugar nenhum?

 

ESPACIALIDADES

 

A complexa história do mundo contemporâneo, nomeadamente a dos efeitos da evolução económica, social e política das últimas décadas, permite assinalar que o aspeto mais constante da globalização moderna tem origem na China. Hoje em dia, o “Império do Meio” está a ser profetizado em toda parte e, simultaneamente, em lugar nenhum.

Também as atuais estratégias da arte contemporânea – na maioria das vezes, de forma intuitiva, apontam para esta mesma pergunta, acabando por revelar uma capacidade singular na possibilidade de mapear espacialidades complexas associadas à globalização.

Estas espacialidades contemporâneas pertencem também a Macau e aos seus artistas de Macau, como esta exposição bem demonstra.

O projeto foi organizado pela XA – Xiang Art (Pequim) e pela Associações Número – Arte e Cultura (Lisboa), contando com o apoio da AFA – “Art for All” (Macau e Pequim).

 

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