Início » Wong Sio Chak na frente contra Ho Iat Seng

Wong Sio Chak na frente contra Ho Iat Seng

Paulo Rego*

No regresso da última visita a Pequim, Ho Iat Seng confessou não saber ainda se concorre a um segundo mandato. Mas a dúvida não está só nele. E é precisamente por haver sinais de indecisão, em Pequim, que quem aspira ao cargo acelera agora o passo. Nesse contexto, Wong Sio Chak estará a ganhar pontos a André Cheong; havendo quem lance Lei Wai Nong ou Elsie Ao Ieong, os secretários mais próximos do Chefe; ou mesmo Dominic Sio, nome que mais surpreende por significar uma inversão radical do ciclo político.

Ho Iat Seng quer continuar – e faz por isso – mas sabe o risco que enfrenta. O autoisolamento que adotou retira-lhe apoio local; onde os anticorpos unem liberais e conservadores, homens de negócio e burocratas da estrutura comunista. O
seu futuro depende sobretudo da rede de suporte em Pequim, onde ganhou o primeiro mandato – e luta pelo segundo. O problema é que na capital, nesta como em muitas outras matérias, multiplicam-se dúvidas e indecisões, num sinal de que Xi Jinping estará a medir as matérias nas quais se vai impor, e aquelas em que será melhor negociar equilíbrios.

Ho Iat Seng selou o Palácio à oligarquia local, tem patriotismo para dar e vender e obediência cega à Mãe Pátria. Mas o ciclo pode mudar e há luzes difusas no horizonte: se a China quiser dar às elites de Macau sinal de que as ouve; e quiser dar ao
mundo a ideia de abertura, e reforço das relações externas, o CE tem baixo perfil. Por outro lado, o diálogo com a Administração é pobre – secretários à cabeça – e a distância para a sociedade civil, e o resto do mundo, é evidente. Por fim, a incapacidade de promover a competência e a meritocracia é voz corrente até entre forças vivas do Continente.

Diga-se, por dever de justiça, que o destino de Ho Iat Seng não se define por análise fria de méritos e defeitos, mas sim no jogo de equilíbrios em Pequim, e de quem tomar as rédeas de Hong Kong e Macau.

No caso de Ho Iat Seng não resistir, Lei Wai Nong e Elsie Ao Ieong são postos a correr em nome da continuidade. Garantem a Pequim a mesma visão de Ho Iat Seng, estando cientes de que as janelas do Palácio têm de se abrir a novos ventos. Mas também é verdade que, na tese da continuidade, Ho Iat Seng é mais forte. Pode mudar o que está mal; por exemplo,
delegando poder e autonomia a secretários renovados.

Para uma mudança maior, a partir dos secretários, André Cheong é há muito o grande rival de Wong Sio Chak. Mas o secretário para Administração e Justiça tem perdido apoio local, criticado por se ter fechado sobre si próprio – o que surpreende quem com ele antes privava. Razão pela qual Wong Sio Chak é agora visto como hipótese mais forte. Por
um lado, tem perfil securitário, o que agrada à prioridade da Segurança Nacional; por outro, dá provas de competência; é bilingue perfeito; conhece bem outras realidades, como a de Portugal; e tem mais diálogo com a sociedade civil.

Argumentam os seus defensores que junta o melhor de dois mundos: mudaria o ciclo político, segurando o que Pequim não arrisca.

Será essa a maior a vantagem sobre a novidade nos bastidores: Dominic Sio, já com dois mandatos na Assembleia Nacional Popular, é um empresário com mundo; muito bem relacionado na elite local; e aberto às relações externas. Representaria o regresso a uma visão universalista, mais próxima da que Edmund Ho corporizou; e uma inversão total em relação ao ciclo de
Ho Iat Seng. Se tem aval de Pequim, ou se é apenas lançado por quem insiste na tese com a qual Lionel Leong perdeu, é cedo para se perceber.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

Tags: Paulo Rego

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!