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Situação financeira do Jockey Clube previa encerramento

Analistas dizem que o encerramento do Jockey Clube de Macau (MJC) não foi inesperado, considerando a sua situação financeira. Para alguns, estranho foi a decisão do Governo de prorrogar o prazo por mais 24 anos em 2018, sabendo do contexto deficitário

Nelson Moura

Após meses de discussão pública sobre o futuro do MJC, esta semana foi finalmente confirmado que a pista de corrida na Taipa vai mesmo encerrar, após quase 40 anos em operação.

Numa conferência de imprensa, o porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong, apontou que a concessão, que tinha sido prorrogada por mais 24 anos no final de 2018, vai terminar a 1 de abril deste ano. A Companhia de Corridas de Cavalos de Macau terá agora até março de 2025 para transferir os seus quase 300 cavalos para fora de Macau e resolver a situação laboral dos mais de 500 empregados.

Cheong revelou que a empresa solicitou em 2023 a rescisão de contrato devido às “dificuldades de exploração”, um pedido aceite pelo Governo por mútuo consentimento. A rescisão não implica o pagamento de alguma indemnização por parte da operadora, que necessitou apenas de abater cerca de 150 milhões de patacas em impostos devidos à Administração Pública.

Ao abrigo dos acordos celebrados entre as duas partes, que iniciaram as negociações em meados do ano passado, todas as instalações e terrenos existentes atualmente possuídos pelo operador de corridas de cavalos serão então devolvidos incondicionalmente ao Governo.

Durante um debate organizado esta semana pela Macau Business e pela Fundação Rui Cunha, intitulado “As Novas Concessões de Jogos: Um Ano Depois”, os membros do painel também opinaram sobre esta ‘morte anunciada’.

Para Davis Fong, diretor do Instituto de Estudos sobre a Indústria do Jogo da Universidade de Macau, a pista era uma relíquia de um tempo em que Macau oferecia uma grande variedade de modalidades de jogo.

“Em Macau, há cerca de 20 anos, tínhamos corridas de cavalos, corridas de galgos, lotarias e casinos, mas no final, os casinos superaram todos os outros produtos de jogo legalizado”, observou Davis Fong.

“Podemos ver nos Estados Unidos que cada vez que há um ‘boom’ de casinos, verifica-se um aumento na concorrência e pressão sobre outros produtos de jogo, como corridas de cavalos. É a natureza da competição. Além disso, bem ao nosso lado, já temos o Jockey Club de Hong Kong”.

Em completo oposto à pista de corridas local, o Jockey Club de Hong Kong declarou um volume de negócios recorde de 304.8 mil milhões de dólares de Hong Kong na temporada 2022-23, um aumento de 5,1 por cento em termos anuais, apesar dos efeitos da pandemia de Covid-19.

No mesmo debate, o consultor Niall Murray destacou a diferença significativa no investimento realizado pelo MJC e o seu congénere na cidade vizinha
“A paixão e a vontade de continuar foram perdidas quando Stanley Ho desistiu da operação. Acho que a operadora não se estava a esforçar ao máximo para ter uma operação lucrativa e mantê-la realmente vibrante”, afirmou Murray.

Promessas por cumprir

A empresa é administrada por Angela Leong, esposa do falecido magnata dos jogos, Stanley Ho, e também co-presidente e diretora executiva da operadora de jogos SJM.

Como requisito para a renovação do contrato, aprovado no fim de fevereiro de 2018, a direção do Clube prometeu liquidar os impostos em atraso num prazo de três anos e investir 1.5 mil milhões de patacas para aumentar os elementos não relacionados com o jogo, incluindo uma escola de hipismo, parques de diversões, hotéis, centros comerciais gourmet, etc.

No entanto, cinco anos e meio depois da renovação, o plano de investimento prometido ainda não tinha sido implementado. No último relatório anual, Leong, presidente do conselho de administração da empresa, assegurou que o Jockey Clube de Macau iria agarrar oportunidades douradas, fixando metas diversificadas para o desenvolvimento.

No ano passado foi reportado que as autoridades de Macau teriam proibido a operadora de importar cavalos e de aceitar apostas de fora da cidade. As autoridades negaram ter discutido o encerramento da pista e acabaram por aprovar a temporada 2023/2024 do Jockey Clube de Macau.

Esta semana a MJC revelou ter acumulado prejuízos de 2.5 mil milhões de patacas, com Rui Cunha, administrador e secretário da empresa, a indicar numa conferência de imprensa que “o espaço para o desenvolvimento da atividade de corrida de cavalos em Macau tem sido reduzido continuamente” e os três anos da pandemia levaram a que companhia permanecesse “numa situação de prejuízo”.

Para o economista José Duarte, a grande surpresa não se encontra no término da concessão, mas sim na extensão de 24 anos aprovada pelas autoridades em 2018, considerando os bem conhecidos problemas financeiros da empresa.

Jorge Godinho, investigador da indústria e da história do jogo local, considerou a decisão do Governo de rescindir o contrato de concessão como “a única possível”.

“Quando a procura não existe ou é insuficiente, e a operação de uma certa tipologia de jogo não é sustentável, só resta encarar a realidade e encerrar a atividade”, disse o investigador num artigo de opinião publicado no jornal Hoje Macau.

No mesmo debate na Fundação Rui Cunha, Rui Pinto Proença, advogado e sócio gestor da MdME, deixou o apontamento que o mais importante agora é ver que aproveitamento deve ser dado ao terreno com quase 404 mil metros quadrados, que irá reverter a título gratuito para o Governo.

As autoridades já prometeram a realização de estudos para o seu futuro aproveitamento, tendo garantido que a área não será usada para a construção de mais casinos ou outras operações de exploração de jogo.

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