Os problemas financeiros da histórica pista do Jockey Club de Macau não são um problema recente, mas o possível fecho da pista de corridas nunca gerou tanta discussão como agora. Ao PLATAFORMA, o Professor Coordenador do Centro Pedagógico e Científico nas Áreas do Jogo e do Turismo da Universidade Politécnica de Macau (UPM), Zeng Zhonglu, aponta vários problemas graves ao Jockey Clube de Macau, principalmente o alto volume de prejuízos acumulados e a maior concorrência na região. “Nesta altura, é relativamente difícil o Jockey Clube de Macau voltar a ser rentável, pelo que, ou o Governo não renova o contrato por incumprimento, ou o Jockey Clube opta por cessar a sua atividade.”
O professor compara também com o desempenho impressionante do vizinho Jockey Clube de Hong Kong. Para o investigador as instalações da pista de corridas de cavalos local estão “ultrapassadas” e a sua atratividade turística é “limitada”, com a sua continuação a não fazer sentido se o Clube não conseguir alcançar uma solução de longo prazo para os seus prejuízos.
Analisando na perspetiva do desenvolvimento da indústria de jogo local, Zeng considera que as corridas de cavalos como atividade de jogo têm alguma relevância para a diversificação do jogo de Macau, mas destaca que a rentabilidade é também um fator importante nos esforços de diversificação. “Se não houver perspetivas de rentabilidade, não faz sentido falar de diversificação do jogo”, nota.
Impacto social reduzido
O investigador destaca também que o encerramento do Jockey Clube não teria um impacto significativo na comunidade de Macau. “O encerramento implicaria ‘eliminar’ animais e pessoal, mas não afetaria a economia global de Macau e o desenvolvimento do setor do jogo”, aponta.
Nesta altura, é relativamente difícil o Jockey Clube de Macau voltar a ser rentável, pelo que, ou o Governo não renova o contrato por incumprimento, ou o Jockey Clube opta por cessar a sua atividade
Zeng Zhonglu, Professor Coordenador do Centro Pedagógico e Científco nas Áreas do Jogo e do Turismo da Universidade Politécnica de Macau
O Jockey Clube de Macau registou prejuízos acumulados de 2.1 mil milhões de patacas até 2022, um aumento de cerca de 200 milhões de patacas face ao período homólogo do ano anterior, com as receitas das corridas de cavalos a cair de 47 milhões de patacas, em 2022, para 39 milhões de patacas, em 2021. As apostas em corridas de cavalos contribuíram com 22 milhões de patacas para a receita bruta do jogo no primeiro semestre do ano, com a receita bruta global do jogo de Macau a atingir 80,4 mil milhões de patacas nos primeiros seis meses do ano.
Em termos de volume, as apostas em futebol contribuíram 183 milhões de patacas para o total das receitas de apostas no primeiro semestre de 2023, com corridas de cavalos a representar apenas um décimo desse valor, sendo responsáveis por menos de 0,3 por cento do total das receitas em apostas na RAEM.
O número de cavalos em Macau diminuiu também de um máximo de 1.200 há 20 anos para cerca de 220 atualmente, com o número de corridas por ano a cair de 1.200, em 2003, para apenas uma corrida por semana atualmente. O número de trabalhadores também não aumentou desde o início da pandemia e o processo de recrutamento de novos funcionários está suspenso.
Fontes do Jockey Clube disseram ainda ao PLATAFORMA que alguns membros do clube, bem como proprietários de cavalos de corrida sentem que os serviços auxiliares estão “cada vez piores” e confessaram que querem abandonar o Clube.
Em 2018, o Governo de Macau revelou que o Jockey Clube devia ao Estado cerca de 150 milhões de dólares em impostos. Mesmo assim, concedeu uma extensão de 24 anos e meio à concessão da pista de corridas.
Como requisito para a renovação do contrato, a direção do Clube prometeu liquidar os impostos em atraso num prazo de três anos e investir 1.5 mil milhões de patacas para aumentar os elementos não relacionados com o jogo, incluindo uma escola de hipismo, parques de diversões, hotéis, centros comerciais gourmet, etc. No entanto, cinco anos e meio depois da renovação do contrato de concessão, no final de fevereiro de 2018, o plano de investimento prometido ainda não foi implementado.
Deputado defende “período de transição”
Ao PLATAFORMA, o deputado Leong Sun Iok afirma que a maioria das empresas de jogo ainda se encontra em período de recuperação, uma vez que a pandemia trouxe desafios sem precedentes à economia de Macau. Perante essa circunstância, compreende a incapacidade do Jockey Clube de cumprir com as promessas e defende que deve haver um “período de transição”. “O Governo deve prestar assistência às empresas em função da sua situação real, em vez de as empurrar subitamente para uma situação desesperada”, salienta.
O Governo deve prestar assistência às empresas em função da sua situação real, em vez de as empurrar subitamente para uma situação desesperada
Leong Sun Iok, deputado
O deputado sublinha que um “período de transição” não significa que as empresas não sejam responsabilizadas, pois estas têm que pagar impostos e honrar os seus contratos, mas aponta ser necessário mais tempo para avaliar a situação real. Leong relembra que quando o canídromo fechou em 2008 – uma concessão de jogo também ligada à empresária Angela Leong On Kei – houve uma consulta tripartida entre o Governo, os trabalhadores e a empresa, pelo que não houve grande impacto social.
O deputado realça também que o Jockey Clube de Macau está ligado à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, S.A. (STDM), uma empresa de grande dimensão em Macau, pelo que o Governo deveria manter uma comunicação adequada e tentar salvaguardar os direitos e interesses dos empregados. No mês passado, a TDM Canal Macau divulgou que o Jockey Clube tinha decidido despedir 82 funcionários, mas voltou atrás na decisão após pressão do Governo.
O Jockey Clube de Macau indicou aos meios de comunicação social ter apresentado ao Governo da RAEM um pedido de calendário para a próxima época de corridas de cavalos, que deveria decorrer de setembro deste ano a agosto de 2024, e que aguarda agora a apreciação e aprovação das autoridades competentes.