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A sustentabilidade é um bom negócio

Há décadas que o Homem, versado na maionese da negação, finge ser maior que a natureza; escudado pela ilusão de poder da ciência, que tudo a ciência resolve depois de tudo destruir. Quando for necessário, pensa a sua elite do bicho-homem, mudamos de planeta, numa arca de Noé espacial. Não todos, claro… ficam em terra todos os outros biliões, entregues a si próprios nessa tentação para o abismo.

Sabe-se há muito que o carbono tudo mata; que a proliferação química envenena; que o desperdício cheira podre, que o consumo decapita o real nível de vida. Entre fábulas do deus-homem, a falsa inteligência fabrica o interesse acionista, e o povo come a carochinha negacionista. Países em, de costas voltadas para os desenvolvidos, agarram-se ao atraso na culpa, discutem quem paga, quem tem direito a prolongar a cantilena do lixo. Esse tempo acabou, e a discussão tem de ser virada ao contrário. Afinal, o capitalismo global só tem uma narrativa: se salvar o planeta der dinheiro e poder, então já o negócio vale a pena.

Macau anuncia o seu plano a caminho do carbono zero – ou quase. Falta-lhe experiência, histórico, know-how e credibilidade para convencer cientistas focados na matéria, ou ambientalistas habituados a desconfiar de promessas oficiais. Mas na verdade, como facilmente se percebe, o tamanho especialmente reduzido da cidade, a sua capacidade financeira, e uma liderança política cada vez mais musculada, criam condições para uma cultura de exigência mais séria, com resultados bem mais rápidos e ambiciosos. Afinal, ganhará o futuro quem souber ser líder os novos tempos. E o caminho para o abismo, certamente, não é o que vai ganhar tração. Seja ela científica, económica ou política.

O princípio do poluidor pagador, as isenções fiscais para a produção sustentável, e sobretudo, um mercado global aberto a biliões de consumidores gradualmente mais conscientes e exigentes nessa matéria, não deixam grandes dúvidas quanto às oportunidades que se abrem no mercado da sustentabilidade.

Basta comparar a consciência e a prática ambiental das novas gerações com os dinossauros que nós outros ainda somos para perceber a velocidade com que tudo muda – e faz mudar. Mas há também o efeito político, e a perceção que tem de ser – e será – clara a nível global. A China, campeã do carbono durante a sua revolução industrial tardia, passou tempo a explorar argumentos segundo os quais se pretendia provar que o ocidente rico podia desistir da produção intensiva de emissões poluentes – mas não o oriente mais pobre. Mas esse tempo acabou. É preciso perceber que é na conquista do mercado futuro que essa luta tem de ser ganha. E isso é verdade para cada um de nós, consumidores; como é para cada país, individualmente considerado ou nas alianças que integra; como é para o mundo em geral.

A China tem essa consciência. E é por isso que as metas que traça são ambiciosas e exigentes: setor a setor, região a região. Porque, no fundo, percebe que isso é hoje incontornável no plano de aceitação global, na ambição global de liderança económica, cultural ou política. De grande poluidor, a líder salvador, vai um longo caminho que exige visão, rigor e competência. É nesse contexto que Macau tem de olhar para a sustentabilidade também como a sua oportunidade. Porque também aqui tem condições teóricas de ser um farol na Grande Baía, na China, e no mundo. Está a milhares de quilómetros desse mindset, mas a uma curta distância de fazer a diferença. Basta integrar a consciência do valor desse caminho, e ver horizonte que com ele se abre.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

Tags: Paulo Rego

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