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“Os artistas de Macau são uns afortunados”

Já foram divulgadas as propostas selecionadas para a “60ª Exposição Internacional de Arte - A Bienal de Veneza: Evento Colateral de Macau, China”. “Above Zobeide”, apresentada pela curadora local, Chang Chan, e pelo artista, Wong Weng Cheong, foi escolhida para representar Macau em abril do próximo ano. Em entrevista exclusiva ao PLATAFORMA, os dois artistas afirmam que, apesar da cidade ser muito pequena, “os artistas de Macau são uns afortunados”, porque há mais oportunidades para expor as suas obras em comparação com as regiões vizinhas

Carol Law

– Pode falar-nos da sua inspiração para a proposta?

Chang Chan – O tema da Bienal de Veneza é “Estrangeiros em todo o lado”. Discutimos o tipo de trabalho que queriamos criar. Acontece que ambos gostamos muito do livro “As Cidades Invisíveis”, do escritor italiano Italo Calvino. Há um conto chamado “A Cidade e o Desejo”, que apresenta uma cidade chamada “Zobeide”. A história é sobre um grupo de pessoas de diferentes partes do mundo que tiveram o mesmo sonho, no qual viram as costas de uma mulher, seguiram-na e, a mulher depois desaparece. Quando acordaram, fizeram o mesmo caminho e acabaram por se reunir todos no mesmo sítio. Entretanto, perceberam que todos tiveram o mesmo sonho e construíram uma cidade chamada “Zobeide” no local onde se reuniram. Portanto, “Zobeide” é, de facto, uma cidade construída por estrangeiros. Achámos esta história muito interessante e adequada aos tempos modernos.

– Porque é que quer participar na Bienal deste ano?

Wong Weng Cheong – Interessa-me o tema porque vivi no Reino Unido, em Macau e em Hong Kong. Por vezes, quando vou a outros locais, como Tóquio, sinto que se estão a tornar cada vez mais semelhantes a Hong Kong. Nas cidades modernas, especialmente nas mais desenvolvidas, parece que todas as culturas do mundo estão reunidas e sinto sempre que estão a tornar-se mais ou menos iguais. Macau está lentamente a tornar-se assim. Talvez a diferença entre estes 20 anos e quando eu era criança seja muito grande, por isso estou muito interessado no tema deste projeto. Às vezes parece que cresci em Macau e que sou de Macau, mas às vezes sinto que gosto do Japão. Mas quando vou ao Japão sinto que Macau é a minha casa. Em suma, parece que é difícil sentir que se é de algum lado; todos parecemos estrangeiros, mesmo na cidade onde nascemos e crescemos.

C.C. – Este tema toca-me porque tenho uma forte sensação de ser estrangeira em todo o lado. Nasci em Hubei e vivi em Macau, Shenzhen e Inglaterra durante muito tempo. Os meus amigos talvez tenham nascido e crescido em Pequim, foram para Inglaterra estudar, para Hong Kong trabalhar e depois foram para outros sítios. Quando lhes pergunto de onde são, muitos responderam “onde vivo agora”, mas se perguntarmos “onde é a minha terra natal”, é uma pergunta muito difícil de responder. O mundo tornou-se um lugar muito mais complicado, por isso penso que este é um tema muito interessante. Não se trata de uma questão regional, mas sim global.

– Ambos estudaram no Reino Unido. O que pensam das oportunidades para os artistas de Macau exporem noutros países?

C.C. – A arte contemporânea é dominada principalmente pelo Ocidente, mas nos últimos anos tem havido mais discussão sobre o “Sul Global”. Se quisermos ser mais visíveis a nível internacional, como na Bienal de Veneza ou noutras cidades ocidentais, a concorrência é enorme, porque estão lá reunidos artistas de todo o mundo. Penso que este não é apenas um problema para os artistas de Macau, mas um problema para todos os artistas, ou seja, como ser visto. Claro que há mais oportunidades no Ocidente, mas também há mais concorrência. Por isso, penso que o principal é, como artista de Macau, ou como artista do Sudeste Asiático, como contar a história da sua arte, contar bem o seu trabalho artístico e deixar que as pessoas vejam que tem realmente muitas coisas diferentes. É uma tarefa difícil, mas pode ser feita. Talvez seja necessário que mais pessoas trabalhem em conjunto para levar este assunto mais longe.

– O que pensa sobre o atual desenvolvimento das artes em Macau?

W.W.C. – Quando fui pela primeira vez ao Reino Unido, vi tantas obras de arte espantosas. Senti-me muito chocado e os meus horizontes alargaram. Antes disso, passei muito tempo em Macau só a ver fotografias. Penso que, no fim de contas, podemos ir a muitos sítios para aprender técnicas e ideias diferentes, mas o mais importante é a forma como as aplicamos ao nosso trabalho. De facto, penso que há muitas oportunidades em Macau, tal como a Bienal de Veneza. Para muitos artistas de outros países e outros lugares, é uma oportunidade que está para além da realidade e algo que nunca pensariam em toda a sua vida. Por isso, Macau é um ótimo trampolim, há muitas oportunidades surreais em Macau. Nos últimos anos, o Governo tem estado a promover as artes e a cultura. Ouvi dizer no exterior que a reputação de Macau está a crescer e ouvi comentários positivos de artistas de Hong Kong.

C.C. – Digo o mesmo porque, embora Macau seja muito pequeno, a Bienal de Macau acabou de começar e tem uma grande influência internacional. Penso que os artistas de Macau são de facto muito afortunados porque, mesmo se compararmos Macau com o Interior da China ou Hong Kong, penso que os artistas têm mais oportunidades. Há muitas oportunidades para os artistas exporem as suas obras, quer localmente quer noutras regiões do mundo.

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