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Educar ou vigiar?

Guilherme Rego*

A morte de um bebé numa creche em Macau traz dois temas à conversa: primeiro, a responsabilidade da creche e dos profissionais envolvidos; depois, a educação e qualificação desses profissionais. Associações de pais e deputados exigem a introdução de sistemas de videovigilância nestes espaços, à semelhança do que já acontece em algumas zonas do Continente. Se na China essa medida contribuiu para maior segurança das crianças – e até dos profissionais – então que se avance. Sempre com a devida cautela, em consonância com as partes interessadas e a Lei.

A questão trazida a público, que é pertinente, resolve o primeiro tema (responsabilidade). Contudo, falha em abordar o segundo que, é a origem do problema. A falta de qualificações dos profissionais, e das condições de trabalho estão diretamente relacionadas. Sejamos justos: não é um problema só em Macau. A educação é menosprezada pelas autoridades, ao mesmo tempo que reconhecem que é o investimento no futuro mais inteligente. As creches têm poucos recursos, a escolaridade obrigatória também. Por outro lado, a condição económica das famílias determina o nível da formação e dos profissionais ao seu dispor. Este é o problema de fundo, e não se resolve com câmaras nas salas.

Neste momento, há poucos incentivos para se ser um educador – ou professor. A formação dos mesmos também é limitada a nível local. Tudo parte da educação, do reconhecimento que é dado à componente mais importante do nosso crescimento. Os índices de desenvolvimento de uma cidade, de um país, também serão consequências disso.

Mais do que ponderar mecanismos de segurança, precisamos de abordar o elefante na sala. Câmaras não previnem, responsabilizam o ator depois do erro. Para resolver esta e outras questões que se prendem com a educação, o Governo tem de olhar para o problema com a merecida seriedade. Tem de evitar que as creches e outras instituições de ensino sejam forçadas a recrutar profissionais sem qualificações, ou sob condições de trabalho que não permitem garantir a segurança das crianças. Depois de um acidente como este, o compromisso das autoridades em evitar estes casos não se deve ficar pelo reforço da vigilância. Isso é até um descompromisso com o ensino. Mais importante que as câmaras, é reavaliar os montantes adjudicados à educação – reconhecidamente insuficientes.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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