Esta terça-feira a TDM – Teledifusão de Macau assinou acordos de cooperação com quatro estações televisivas de países lusófonos. Estes memorandos trazem para a Lusofonia programas traduzidos em português sobre “a cultura chinesa e o avanço tecnológico que se verifica na China”.
Quando se discute o papel de Macau como ponte sino-lusófona, não se pode alienar a relevância dos media locais. A equação não se remete apenas para o foro político e económico. Aliás, a componente cultural e noticiosa é, por norma, a que constrói e desmantela muitas das muralhas que se erguem no entendimento entre povos. A difusão da cultura chinesa, da sua história, forma de agir e pensar resulta numa melhor compreensão da realidade vivida na China. Mais, revela também aquilo que é um país complexo e mais diverso que aquilo que aparenta para o exterior.
Guerra Fria à parte, o mundo moderno nunca esteve tão dividido. A globalização foi, talvez, rápida demais, e hoje colhem-se os frutos – na sua maioria podres. Há dificuldades em aceitar culturas diferentes. O pano de fundo atual é a guerra, bélica e comercial, mas a manipulação dos elementos culturais servem (e sempre serviram) como arma para distanciar os povos. Crescem os esforços de protecionismo e de segurança nacional. O que vem de fora é mais facilmente identificado como ameaça do que complemento. A China é, inevitavelmente, um dos países que pisa esse palco desestruturante e assume o papel de protagonista.
Por isso estas trocas de conteúdos, modelos nos quais o próprio PLATAFORMA se ergueu e ainda hoje constrói, são vitais para reparar as fissuras que existem e evitar futuras. Não nos iludimos: há pontos nos quais nunca haverá um entendimento. Mas, como prova a reaproximação dos Estados Unidos à China, pode e deve-se cooperar mesmo quando ambas as partes reconhecem que há áreas nas quais nunca vão chegar a um consenso. Este mindset é crucial para o desenvolvimento mútuo.
Posto isto, o entendimento cultural é um bom ponto de partida para começar e reatar relações. Além das barreiras não serem tão limitantes, blinda os povos da cegueira provocada por rótulos de interesse e natureza política e comercial.
Diretor-Executivo do PLATAFORMA*
