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China mais 4… ou 40

Paulo Rego*

Brasil, Rússia, Índia, China, e África do Sul (BRICS) representam mais de 42 por cento da população mundial; 30 por cento do território do planeta, 23 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e 18 por cento do comércio global. Pequim, que lidera este bloco, obteve esta semana uma dupla vitória na Cimeira de Johanesburgo: por um lado, é agora oficial que está a nascer um poderoso bloco alternativo ao eixo Washington-Bruxelas; por outro, Xi Jinping afirma-se como a estrela mais cintilante dessa estratégia, o que não era claro nesta fase pós-covid.

Nova Deli e Brasília apoiaram oficialmente na Cimeira de Joanesburgo a tese chinesa do alargamento. Dezenas de futuros membros parecem dispostos a criar um bloco que se assume como alternativo ao domínio dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica. Entretanto, a guerra na Ucrânia desgasta de forma irrecuperável a imagem de Vladimir Putin, deixando a Xi Jinping palco livre para encenar a sua versão da nova ordem mundial.

O líder chinês foi desde logo destaque por nem sequer ter proferido o seu tradicional discurso no Fórum de Negócios da cimeira. Sem dar qualquer explicação, Xi enviou no seu lugar o ministro do Comércio, com a missão de acusar Washington de empurrar o mundo para o “abismo” de uma nova “guerra fria”. A proposta chinesa é clara, ganhar maior tração… e dezenas de aliados. O discurso não podia ser mais direto: fazer dos BRICS a base para uma aliança de nações que frontalmente rejeitam a liderança dos Estados Unidos e do bloco liberal-democrata ocidental.

Nos últimos seis meses, Pequim tem multiplicado contatos no cenário internacional, tentando recuperar os palcos perdidos durante o isolamento provocado pela política de Covid-zero. Mas esta cimeira dos BRICS foi a operação mais consequente e com maior sucesso desse renascimento chinês. Foi o líder indiano a dar a notícia de que “mais de quarenta países” estão disponíveis para esta aliança. Narendra Modri e Lula da Silva, esperava a diplomacia ocidental, seriam aqueles que mais resistiriam a colocar-se do lado de lá desse muro. A verdade é que Pequim ultrapassou essa barreira em Joanesburgo.

Muito se tem especulado sobre os motivos que terão levado Xi Jinping, estando presente na cimeira, a decidir não discursar. Até porque não houve qualquer explicação oficial. Mas o facto é que o discurso do Ministro do Comércio chinês, claro, contundente, e desafiante… foi apoiado e aplaudido. Há muito que Washington e Bruxelas temem – e contrariam – a ambição chinesa de expansão da sua influência através deste tipo de plataformas de política internacional. Contudo, nenhuma delas se compara à dimensão dos BRICS. E muito mais com o alargamento em curso e institucionalmente assumido.

Há muitas visões do mundo. Mas estas duas vão, de facto, enfrentar-se. Está escrito nas estrelas da nova ordem. E apesar da guerra na Ucrânia, a Rússia está lá, e não afugenta assim tanta gente como o oriente podia desejar. Contra factos, restam os argumentos. E é bom que descubram forma de se entender.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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