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“Não devemos esperar grande entusiasmo por parte dos investidores em construir hotéis de três estrelas”

Chefe do Executivo diz que tem de haver hotéis para todos. Académicos e membros da indústria concordam, mas a necessidade pode esbarrar no investimento. Capacidade dos hotéis de cinco estrelas ajustarem os seus preços retira margens de lucro e desincentiva o desejo de Ho Iat Seng

Carol Law

Durante a sua visita ao plenário da Assembleia Legislativa (AL) na semana passada, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, afirmou que para expandir as fontes de turistas da RAEM, as autoridades estavam a estudar a possibilidade de ter mais hotéis de três estrelas.

Nos primeiros seis meses do ano, as taxas médias de ocupação de hotéis de duas e três estrelas foram ambas superiores às de hotéis de quatro e cinco estrelas. Recentemente, 14 visitantes disseram ao PLATAFORMA que preferiam poupar dinheiro no alojamento e gastar mais em compras e refeições; seis admitiram ficar mais tempo se os quartos fossem mais baratos. Todos os turistas entrevistados apelaram para que a indústria baixasse os preços. Um chegou inclusive a afirmar que “os hotéis de Macau são demasiado caros” e que os preços dos hotéis de luxo são “inaceitáveis”.

Percentagem reduzida

Até ao final de junho, existiam 131 unidades hoteleiras em funcionamento e aproximadamente 43.000 quartos, segundo a Direcção de Estatísticas e Censos (DSEC). Entre estes, 6.100 quartos pertenciam a hotéis de três estrelas (14 por cento do total), enquanto 8.600 quartos (20 por cento) e 25.900 quartos (60 por cento) pertenciam a hotéis de quatro e cinco estrelas, respetivamente. Com a abertura de hotéis de cinco estrelas, como os novos Raffles e Andaz, no Galaxy Cotai, bem como o W Hotel no Studio City, na segunda metade do ano, espera-se que o número de quartos em hotéis de cinco estrelas aumente ainda mais.

Em resposta a uma pergunta na AL da sexta-feira passada, o Chefe do Executivo afirmou que as instalações e serviços dos hotéis em Macau já são de elevada qualidade. No entanto, Ho admitiu que os preços dos quartos não são competitivos, que existem demasiados hotéis de cinco estrelas em comparação com os restantes, e que iria estudar o aumento da proporção de hotéis de três estrelas a médio prazo.

Tanto Andy Wu, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, como Lo Chi-leung, presidente da Associação dos Hoteleiros de Macau, apoiam esta ideia. Citado pelo Macau Daily News, Wu afirmou que a maioria dos turistas em grupo escolheria hotéis de três ou quatro estrelas para reduzir as despesas de viagem, e que se o número destes hotéis fosse maior, teriam mais opções. No mesmo jornal, Lo Chi-leung apontou que mais hotéis de três ou quatro estrelas aumentariam a concorrência nessa categoria, melhorando a atratividade da cidade como destino turístico.

Investimento atrativo?

Porém, Rutger Verschuren, vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau, acredita que será difícil trazer investidores para construir hotéis de três estrelas. Ao PLATAFORMA, aponta que até ao fim do ano vai haver 50.000 quartos disponíveis e que o aumento da oferta de quartos de hotéis de cinco estrelas, aliado à crescente procura por hotéis de quatro e três estrelas, deve baixar o preço dos hotéis de cinco estrelas. Quando isso acontecer, os preços dos hotéis de três e quatro estrelas devem diminuir para manter uma distância em relação às tarifas mais baixas oferecidas por hotéis de cinco estrelas.

“Hotéis de cinco estrelas integrados com casinos podem, possivelmente, baixar os seus preços, uma vez que são apoiados por outras fontes de receita, mas continuam a oferecer a melhor qualidade possível”, afirma. Assim sendo, os hotéis de nível abaixo “poderão sofrer, uma vez que os custos de construção e de operação, incluindo mão de obra, são elevados. Portanto, não devemos esperar grande entusiasmo por parte dos investidores em construir hotéis de três estrelas”.

Apenas 6.100 quartos na cidade, ou aproximadamente 14 por cento do total, pertencem a hotéis de três estrelas.

Empurrar para o lado

Verschuren indica que se deve incluir na equação os novos hotéis em Hengqin, especialmente agora que se facilita o controlo fronteiriço com Macau. “Os custos de mão de obra em Hengqin provavelmente são mais baixos do que em Macau, pelo que os seus hotéis podem ser mais flexíveis com os preços. Por isso, a Zona poderá ser mais adequada para hotéis com uma classificação menor”, sugere.

Glenn McCartney, professor associado de Gestão de Resorts Integrados Internacionais na Universidade de Macau, concorda que Hengqin é uma opção para Macau aumentar o número de hotéis, considerando a falta de terrenos na cidade. “Talvez pudesse haver algum tipo de parceria estratégica com Hengqin”, destaca.

Talvez pudesse haver algum tipo de parceria estratégica com Hengqin

Glenn McCartney, professor associado de Gestão de Resorts Integrados Internacionais na Universidade

de Macau

Quanto à proporção de quartos de três estrelas, McCartney salienta que tal envolve planeamento, e que o alojamento, transportes públicos, aeroporto e capacidade de carga devem fazer parte do plano geral para o futuro desenvolvimento da indústria turística de Macau. McCartney acrescenta que o aumento da proporção dos hotéis de três estrelas não será imediata, pois leva tempo a terminar não só a sua construção, mas também o processo de aprovação, escolha de locais, atração de investidores, etc. “Acredito que é preciso parcerias estratégicas a curto e médio prazo, se quisermos impulsionar mais cedo a indústria de MICE.”

Grande plano para começar

O “Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia (2024-2028)” está em consulta pública. Um dos objetivos passa pelo peso do valor acrescentado bruto das atividades extra-jogo ser 60 por cento até 2028. Numa entrevista à Exmoo News, Samuel Tong, presidente do Instituto de Gestão de Macau, disse que não seria fácil atingir as metas estabelecidas. O economista apontou que seriam necessários muitos recursos e esforços para que 60 por cento da economia local se tornasse extra-jogo até à data estipulada.

Os custos de mão de obra em Hengqin provavelmente são mais baixos do que em Macau, pelo que os seus hotéis podem ser mais flexíveis com os preços. Por isso, a Zona poderá ser mais adequada para hotéis com uma classificação menor.

Rutger Verschuren, vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau

Rutger Verschuren diz que a indústria acolhe calorosamente o plano de diversificação económica, mas que isso vai exigir, eventualmente, produção de novas leis. O vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau sugere que, como mudar as leis leva tempo, talvez possam ser elaborados e implementados novos capítulos e regulamentos a curto prazo dentro das leis existentes, e que estas novas iniciativas poderiam ser postas em prática utilizando o conceito de projetos-piloto a curto prazo.

McCartney aponta que as atuais concessões de jogo duram apenas 10 anos e devem expirar antes de 2033, com a revisão a médio prazo a ser realizada talvez em 2027 ou 2028. O professor avisa que os contratos das concessionárias envolvem vários terrenos e projetos, enquanto que alguns podem requerer apoio legal e talentos, tudo questões que levam tempo a afinar.

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