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A plataforma que queremos

Guilherme Rego*

A viagem do Chefe do Executivo de Macau a Portugal reinicia os trabalhos de aproximação aos Países de Língua Portuguesa. Representa também uma oportunidade de ganhar créditos no seio da União Europeia e de promover a Grande Baía – desconhecida nos mercados internacionais, mas fundamental para o desenvolvimento e influência da China.

O reencontro, três meses depois de abrir ao mundo, demonstra também a vontade política de recuperar o tempo perdido o quanto antes – o que é extremamente positivo. Mas a pandemia, apesar de ter terminado, levantou uma série de questões ao nível da integração galopante de Macau na China; e se esta respeita a sua autonomia. Em três anos, a população local assistiu à desconstrução de um modelo político e económico com décadas, e todas as mudanças apontam para uma aproximação com a China, e não com o mundo – apesar de não a restringir.

Para quem olha de fora, este contexto condiciona as relações. Esta semana, antes da chegada do Chefe do Executivo a Portugal ecoaram nos media portugueses as preocupações do povo e políticos locais quanto à Lei de Segurança Nacional e êxodo português. Mais uma vez, só revela o impacto que esta viagem tem, e a responsabilidade da delegação de esclarecer os temas que esfriam as relações com a Lusofonia e UE.

Ho Iat Seng não deve passar entre os pingos da chuva, sob pena de o silêncio falar mais alto, e as acusações em torno das RAEs ganharem força. O futuro de Macau depende da capacidade que terá de contrariar os argumentos que pintam um cenário de perda de liberdades, pois tal dita as relações da China com o mundo. O caminho é longo e difícil, sobretudo pelo distanciamento que a pandemia trouxe. O discurso de “amizade secular” e de “aprofundamento das relações” ganha dimensão nesta deslocação, mas só se torna real quando a nível doméstico há ações nesse sentido.

Para começar, criar condições para trazer talentos portugueses é uma prova de boa fé. A componente multicultural de Macau mantém o seu individualismo e relevância para a China. Concordo com António Trindade quando diz que a plataforma está “pouco aproveitada”. Estamos apenas no início da nova Macau. Mas engana-se quem acha que o combate ao preconceito não passa por uma forte presença da comunidade lusófona na RAEM. A realidade é que 2,3 por cento de falantes de língua portuguesa é uma montra pobre para o que a Região quer e deve ser no futuro.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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