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Manual para a destruição do futebol de Macau

José Pereira CoutinhoJosé Pereira Coutinho

É notório e do domínio público que o desporto em geral e o futebol em particular têm vindo a degradar-se em Macau nos últimos anos. Prova disso é a cada vez mais diminuta assistência nos vários jogos de futebol em Macau.

Na organização de competições locais, a Associação de Futebol de Macau (AFM) solicita aos clubes que assinem um documento a ilibar a associação de quaisquer responsabilidades em jogos oficias por si organizados, ficando os jogadores e clubes à mercê da sua sorte em caso de algum acidente. A falta de condições, de apoios e de um sistema de seguros obrigatórios que permita aos jogadores e clubes fazer face a eventuais acidentes ocorridos nos campos do Governo e nas competições oficiais põe em risco a sua integridade física.

Outra grave questão é o lastimável estado das instalações desportivas e dos campos de futebol em geral, sendo que habitualmente as obras de manutenção efetuadas mais parecem uma “manta de retalhos” e tal representa um risco para todos os futebolistas e desportistas.

Veja-se o estado do relvado do Estádio da Taipa e das suas instalações de apoio, ou o estado do campo do canídromo e das Portas do Cerco, ou o caso das obras feitas no campo Tamagnini Barbosa em – em 2021 – que remendou as redes de proteção e o piso do campo, mas deixou as bancadas da assistência cheias de rachas.

Será que não há dinheiro para recuperar o estado global dos campos de relva sintética e instalações desportivas?

Todos sabemos que efetuar remendos fica mais caro do que consertar ou substituir de uma vez algo que não está em condições.

Aliás, a RAEM diz-se como plataforma de ligação aos PALOPs e inclusivé existem vários protocolos para termos estudantes universitários desses países em Macau. Vêm para a RAEM ao abrigo dos protocolos oficiais, mas são depois impedidos de se integrar na sociedade e contribuir para o estabelecimento de laços culturais porquanto são proibidos de participar nas competições organizadas pela AFM ao nível da 4a divisão.

Não seria que por força do desígnio de fazer de Macau uma verdadeira plataforma com os Países de Língua Portuguesa que estes estudantes fossem integrados na sociedade e pudessem participar nas diversas modalidades desportivas do território?

Vejamos as várias falhas do Instituto do Desporto de Macau (IDM) no aspeto de promoção do desporto sobretudo ao nível da promoção da formação juvenil, aliás condição necessária, atualmente, para que os clubes locais possam participar nas competições internacionais da AFC.

Há várias questões de índole administrativa que demonstram uma falta de respeito pelas associações e pelos cidadãos de Macau na atribuição das instalações desportivas, nomeadamente a falta de resposta escrita aos pedidos escritos efetuados ao IDM, que na maioria das vezes nem resposta recebem ou, se receberem de forma oral, é sem uma justificação adequada.

A todo o momento as associações desportivas locais são confrontadas com novas regras de funcionamento que nunca estão disponíveis no site do IDM, nem escritas em nenhum lugar. Parecem ser feitas à medida para justificar decisões sem nexo.

Não há qualquer apoio do IDM à formação juvenil, seja financeiro ou de acesso a instalações para que as associações possam desenvolver as suas atividades. Na maioria das vezes há até entraves ao desenvolvimento das atividades.

Sugere-se igualmente a criação de um Centro de Apoio às Associações Desportivas com infraestruturas próprias e partilhadas entre as diferentes associações que lhes permitam ter condições de desenvolver programas de formação juvenil, nomeadamente com instalações administrativas, de formação de educadores e de apoio logístico.

Deve-se apostar na criação de mais infraestruturas desportivas de apoio à formação do futebol juvenil nos terrenos recuperados pelo Governo nos últimos anos – concessões que não foram desenvolvidas -, bem como a criação de infraestruturas em número suficiente nas zonas dos novos aterros e até um centro de estágios de nível internacional que possa atrair equipas dos PALOP ou de outras regiões externas.

Sugere-se igualmente a alteração do mecanismo de atribuição dos campos às diferentes associações, assegurando a igualdade de acesso e eliminação das situações discriminatórias que hoje existem, bem como melhorias no sistema informático de aluguer individual dos campos, permitindo a todos os que os reservam em primeiro lugar terminar os trâmites burocráticos e de pagamento sem a sua atribuição a outras pessoas.

*Deputado da Assembleia Legislativa de Macau/Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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