Passados 24 anos, o circo da Fórmula 1 regressou neste fim de semana a Portugal, concretamente ao Autódromo do Algarve. Era algo que as entidades portuguesas há muito sonhavam e conseguiram-no.
Conseguiram-no, mas ao contrário do que se esperaria, houve mais críticas do que qualquer outra coisa. Mesmo com Lewis Hamilton a bater um recorde mundial em solo português (o britânico é agora o piloto com mais provas ganhas na F1, 92), a verdade é que tanto no dia 24 (treinos e qualificação) como a 25 de outubro (a prova propriamente dita) as imagens que mais se viram foram as de vários setores do autódromo com aglomeração de pessoas em plenas bancadas. O espetáculo da velocidade contou com mais de 27 mil pessoas a assistirem e, pelo menos por aquilo que se viu, sobretudo em redes sociais, é que não terá existido um controlo capaz de evitar o tão falado nestes dias distanciamento social, que, diga-se, tem ‘fechado o mundo’ devido à pandemia da Covid-19.
E se o evento levou a críticas do povo e outras figuras mais conhecidas, mais boquiabertas ficaram as entidades ligadas ao futebol e os seus respetivos dirigentes. Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol, foi umas das vozes que se levantaram. A Direção Geral de Saúde tem feito finca pé ao público nas bancadas de futebol, deixando, aqui ou ali, entrarem entre 1000 a 5000 pessoas, em determinados jogos, mas não recusou a ‘loucura’ de quase 30 mil pessoas num espaço em tudo idêntico a um estádio de futebol: tem bancadas, poucos acessos e poucas portas para entrarem grupos de forma isolada.
Pois bem, o que de diferente tem então a Fórmula 1 e o Futebol em Portugal em termos de pandemia? Tem uma diferença de muitos milhões, concretamente na ordem dos 100 milhões de euros. As corridas de F1 têm por hábito gerar um impacto económico muito grande nos países que as recebem, daí que vários governos portugueses há muito vinham sonhando com o seu regresso.
E é esta a grande (se não a única) diferença entre a Fórmula 1 e o futebol em Portugal. E será certamente também esta a diferença que se verá a 22 de novembro, quando o Mundial de Motociclismo regressar a solo luso, oito anos depois da última edição. As portas do Autódromo de Portimão voltarão a abrir mais que as dos estádios do Benfica, FC Porto, Sporting, etc. Tudo porque essas portas permitirão um encaixe financeiro maior na economia do país que as dos clubes de futebol.