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As “burqas” estão longe de ser máscaras de proteção

Circula por estes dias nas redes sociais um meme com os vários tipos de véus usados pelas mulheres no Islão com um slogan do género “afinal têm razão”, uma piada ao facto de agora esses símbolos de submissão das mulheres (na visão ocidental) serem máscaras de proteção. Não achei graça. Talvez porque nunca mais esqueça a imagem de uma mulher marroquina coberta de burqa (a veste negra completa com uma espécie de respiradouro em rede) a arfar enquanto subia com muito esforço as montanhas do Rife, elevadas a quase dois mil metros de altitude, para chegar à Ponte de Deus, num dia em que o sol inclemente atingia os 35 graus na região. Na mesma viagem em Marrocos, impossível esquecer aquele grupo de jovens a nadarem com o seu burquini na praia, espécie de fato de mergulho completo que cobre todo o corpo, a cabeça incluída, uma burqa aquática.

Não é só no Islão que as mulheres não vivem uma liberdade plena. Em quase todas as religiões, a mulher é o elo mais fraco, a parte que deve obedecer, ser respeitável e pudica, procriar.

Agora que se aproxima a Páscoa, uma boa sugestão, neste contexto, é a minissérie da Netflix “Unorthodox”, que conta a fuga de uma jovem de 19 anos, Esty, à sua comunidade judaica ultraortodoxa em Wiliamsbourg, Nova Iorque. Num dos episódios, depois de casada e para ficar pura perante Deus, as outras mulheres rapam-lhe o cabelo de solteira com uma máquina zero até ela ficar com aparência de ter cancro. Esty chora copiosamente enquanto o cabelo cai aos magotes. A série é vagamente baseada no livro “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots”, da escritora Deborah Feldman, que deixou o movimento Satmar, uma comunidade hassídica em Nova Iorque.

No hinduísmo, a força material e causa final da existência de todo o Universo é o Impessoal Absoluto (Brahman), que não tem género (ver artigo de Maria Wilton no site Sete Margens). Mas na prática, o papel da mulher acaba por ser reduzido e inferiorizado na Índia por causa das expectativas sociais.

Enquanto a mulher continuar a ser inferiorizada nas religiões, não se pode falar de “escolha” no uso de um véu ou no rapar do cabelo. A verdadeira escolha é informada e livre.

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