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Sentido da História

Há um século tinha início aquela que ficou conhecida como a década dos “Loucos anos 20”. Num mundo ainda a recuperar das mazelas da I Guerra Mundial, foi um período de grandes transformações sociais, políticas e culturais. No Ocidente, a mulher ganhou um novo papel na sociedade, incluindo o início do direito ao voto, ao mesmo tempo que nascia a cultura de massas e um consumismo e capitalismo especulativo que desembocaria na Grande Depressão, nacionalismos e ascensão do fascismo.
A China vivia tempos conturbados. A ainda jovem República da China estava, na prática, fragmentada entre “Senhores da Guerra” que cimentavam o poder perante a fragilidade de Pequim. Com a morte de Sun Yat-sen a meio da década a instabilidade acentuou-se. A fome que fustigou o norte do país em 1920/21 deixou marcas profundas.
O passado é, de facto, um mundo distante. Cem anos volvidos é inegável, a vários níveis, o progresso que o mundo testemunhou, mesmo entre mais uma Guerra Mundial, Guerra Fria e conflitos vários. Os avanços da ciência e tecnologia permitiram que a realidade tenha ultrapassado a ficção, a esperança média de vida à escala global mais do que duplicou, ao mesmo tempo que a população que habita o planeta multiplicou-se por quatro.
Todavia, na viragem desta década e na vertigem da História, abatem-se sobre a humanidade incertezas e inquietações que atravessam o espaço e o tempo. As manifestações em larga escala que na segunda metade do ano passado cruzaram fronteiras e continentes – de Hong Kong ao Chile, passando pelo Equador, Líbano ou França – são sintomas de um mal estar relacionado com sentimentos de injustiça, desigualdades sociais e desejo de mudança política. A isto junta-se uma ansiedade e percepção de urgência face à cise climática que bate à porta.
Aos sinais claros manifestados na base, devem corresponder alterações na superestrutura, de forma a que a mudança possa ocorrer. Numa perspetiva Hegeliana uma síntese emerge dessa contradição entre opostos. E assim, a História prossegue, qual espírito da razão e do tempo (Zeitgeist). Mas nos processos existem homens (e mulheres), indivíduos com poder que, no concreto, podem ser determinantes. Poder esse que, no ideal Confuciano, deve ser exercido com virtude, benevolência e sentido de tempo (cósmico), com a sensibilidade moral para encontrar o caminho (Dao). Haja clarividência. Bom Ano Novo!

José Carlos Matias 03.01.2020

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