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Não é preciso fazer um grande alarido em relação à matemática

O Departamento de Educação do Reino Unido anunciou recentemente que metade das escolas primárias em Inglaterra irão ensinar matemática à “maneira asiática”, pelo que o governo irá fornecer enormes fundos para financiar materiais de ensino e formação de professores.

Devido ao mau desempenho dos alunos britânicos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos, coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, e ao desempenho excecional dos alunos de Xangai na avaliação, muitos britânicos tinham já vindo a pedir ao governo para adotar o “método de Xangai” do ensino de matemática. A BBC chegou até a realizar um documentário sobre como introduzir o método chinês de ensinar matemática nas escolas britânicas.

Estes desenvolvimentos levaram alguns na China a presumir que o modelo de ensino chinês tinha recebido o “selo de excelência” global. Mas não tiremos conclusões precipitadas.

Embora o “método de Xangai” vá ser usado nas escolas primárias de Inglaterra e os professores venham a receber formação para o seguir, isso não significa que se tenham voltado para o “modelo de ensino chinês” para alcançar o sucesso.

Diferentemente do sistema unificado de administração do ensino da China, as escolas no Reino Unido gozam de muita liberdade no que diz respeito à gestão dos seus assuntos. É verdade que as autoridades de ensino britânicas fornecem apoio educativo e serviços de formação às escolas, mas os professores têm a palavra final quanto ao uso do “método de Xangai”. Isso significa que os professores, dois em cada escola, irão realmente participar nos programas de formação mas poderão não seguir o “modelo chinês” na sua totalidade.

Para além disso, o sistema de avaliação do ensino no Reino Unido é também diferente do da China. Na China, a matemática é a disciplina central na escola secundária e no exame de entrada na universidade, e por isso a China possui um padrão de ensino unificado para a matemática que todos os alunos têm de aprender. No Reino Unido, contudo, não é esperado que todos aprendam matemática, uma vez que o ensino de base no país é mais focado nas características e interesses dos alunos. Poderá também ser essa a razão pela qual a classificação geral dos alunos britânicos em matemática não é tão alta.

Dados estes factos, é possível que os professores nas escolas primárias de Inglaterra mudem o seu estilo de ensino até certo ponto, mas os alunos e os pais poderão não apoiar a alteração total do método de ensino da matemática, e muito menos um padrão unificado para a disciplina como o da China.

É claro que uma melhoria do método de ensino de matemática poderá aumentar as classificações dos estudantes, que é aquilo que os professores estrangeiros elogiam nos alunos chineses. Mas um aluno não consegue tornar-se um profissional de topo se apenas for bom a matemática e não tiver conhecimentos sólidos noutras matérias e for desprovido de espírito de inovação. Os alunos chineses do secundário são, por exemplo, bons a vencer grandes prémios em competições internacionais, mas poucos acabam por se tornar importantes cientistas.

O problema na China é que, apesar de possuírem fortes opiniões sobre o ensino, os pais não têm uma palavra a dizer quanto ao método, uma vez que as escolas chinesas não reconhecem a existência de associações de pais ou de pais e professores. No Reino Unido, porém, as opiniões dos pais importam muito no que diz respeito aos métodos de ensino, o que permite aos alunos prestar maior atenção às matérias pelas quais se interessam, em vez de macerarem o cérebro a tentar aprender algo de que não gostam.

O sistema de ensino de base na China possui um problema: usa o mesmo padrão para avaliar todos os alunos. Isso significa que o problema reside mais no sistema de avaliação do que no método de ensino. Por isso, não há necessidade de achar que o sistema de ensino de base da China é excelente apenas porque escolas em alguns países seguem o modelo de ensino chinês. 

Xiong Bingqi 

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