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Paulo Rego – OS DRAMAS DA MONO INDÚSTRIA

 

Olhamos nesta edição para Angola e para os efeitos perversos que a dependência da exportação do petróleo está a causar na balança de pagamentos. A baixa abrupta dos preços do crude nos mercados internacionais coloca o país em estado comatoso. O Estado não tem dinheiro e aperta com as empresas, sejam elas nacionais ou estrangeiras, que veem as suas receitas cativadas. Hoje é praticamente impossível transferir dinheiro para o exterior. Por consequência, para além da falta de liquidez, retrai-se o investimento estrangeiro, anulando o nacional por falta de crédito.

Há muito que o governo angolano assume a necessidade de diversificar a economia. Mas é também sabido que essa mudança de paradigma não se produz de um dia par o outro. Entretanto, entre o discurso e a prática, instala-se o caos. O que não só paralisa as contas correntes do Estado, como bloqueia no curto prazo o ambiente de investimento em setores alternativos, essenciais para a promoção de alternativas, no médio e no longo prazo.

O caso de Macau é diferente. Embora a indústria do jogo enfrente uma dinâmica de ajustamento, com forte queda nos níveis de crescimento verificados nos últimos anos, os lucros acumulados ao longo da última década permitem às empresas do ramo – como aos cofres do Estado – aguentarem a pressão sem stresse de liquidez. Contudo, a queda generalizada das ações nas bolsas de valores, onde se reflete a expectativa de crescimento negativo, provoca por parte dos acionistas uma pressão que paralisa a gestão de soluções e a disponibilidade mental para se assumirem novos riscos. Nota-se em Macau esse ambiente de retração. Há mesmo um certo nervosismo nas operadoras, não porque lhes falte dinheiro, mas sobretudo porque o horizonte é incerto. Claro está que Angola gostaria muito de estar no estado em que está Macau. Mas é também verdade que, pelo menos do ponto de vista psicológico, os efeitos perversos da mono indústria estão por cá a fazerem-se sentir.

As posições sobre a matéria que têm sido assumidas pela liderança chinesa, bem como as do governo local, dão a entender que a política oficial é a de permitir – se não mesmo promover – esse arrefecimento da economia, que a cavalo da excessiva liquidez dos casinos e dos intermediários do jogo, fez explodir a inflação para níveis insuportáveis para as classes média e baixa. Como há margem para isso, podem até surgir efeitos generalizadamente positivos para a população, a começar pela retração da bolha imobiliária.

A questão central é que nunca antes se vislumbrou um modelo claro de governação capaz de aproveitar o tempo das vacas gordas para se investir, em contraciclo, num futuro menos dependente dos casinos. Nesta altura, as condições são já menos favoráveis do que teriam sido há meia dúzia de anos. Mas estamos muito a tempo de ainda encarar esta circunstância como um sinal dos tempos para se promover a mudança. Antes que seja tarde, como Angola está infelizmente a aprender, a retração da mono indústria – ou o seu ajustamento, como se lhe queira chamar – ainda pode funcionar como pressão positiva no sentido da diversificação económica. É importante – e cada vez mais urgente – dar sinais claros dessa consciência, desbravando os caminhos a seguir quer pelo setor público quer pelo privado.

 

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