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A inteligência tem sempre lugar

Paulo RegoPaulo Rego*

O último grito da inteligência artificial, lançado sem grande aparato, como uma simples experiência académica, em menos de três meses lançou o pânico nos grandes tubarões tecnológicos como a Google.

O chatgpt é provavelmente a realidade digital mais disruptiva da modernidade.

Porque está aberto a toda a gente; pela primeira vez permite uma perceção generalizada do salto quântico que está já em curso: dos motores de busca e dos algoritmos, para a capacidade que um programa pode ter de “pensar” e “criar”.

Experimente perguntar o que quiser, da mais ingénua banalidade, ao desafio mais complexo. Porque há sempre uma resposta, nem que seja a explicação dos motivos pelos quais não faz sentido a pergunta ou porque está bloqueada a resposta.

De facto, impressiona.

É daqueles fenómenos que, mesmo que não se perceba no imediato a sua verdadeira dimensão e alcance, facilmente se intui que nada será como dantes. A máquina não toma decisões. Não se percebe bem ainda se não é capaz de o fazer; ou se está bloqueada para tal função. Como está para muitas outras funções que o chatgpt não assume porque os seus fundadores não querem – não porque não seja capaz de o fazer. O que facilmente se percebe, na dinâmica da revolução digital, é que estas e outras barreiras – éticas e não só – serão mais cedo ou mais tarde quebradas.

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Se não no mercado de massas, certamente pelos serviços de informação, tecnologias militares e outros interesses corporativos ou de Estado.

Rapidamente surgiram aplicações com base na mesma tecnologia, que permitem ao mais comum dos mortais criar obras de ficção, guiões, personagens digitais com personalidade própria, que se confundem com atores de carne e osso… em dois ou três meses, o debate sobre Inteligência Artificial mudou radicalmente. E a ideia romântica de que se pode ter um robot em casa, que fala connosco, que “pensa” de forma autónoma, que trabalha por nós, que cria e comunica por nós… deixou de ser uma ficção tonta para se assumir como o grande debate da modernidade.

Tenho para mim que o susto nunca faz sentido nem vale a pena.

Estamos há 20 anos de alguma forma paralisados na reflexão sobre a engenharia genética; os perigos da manipulação ou mesmo o pânico da clonagem. A verdade é que a sua aplicação na agricultura também pode matar a fome a nível global; e a sua aplicação médica pode salvar muitas vidas e prolongar muitas outras.

Neste caso a chama do debate arde de forma semelhante. É de facto surpreendente ver o chatgpt, em segundos, a escrever código para um jogo de computador, enviar uma carta ao administrador de condomínio, ou preparar uma peça processual a pedido de um advogado…

Também se percebem os limites da padronização e a ideia de que a máquina será usada massivamente, criando mecanismos de massificação e de controlo social nunca dantes imaginados.

É tudo verdade. Vai mesmo acontecer.

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Não se pode impedir o futuro nem faz sentido bloquear todo o potencial que ele nos traz. E também não vale a pena pensar que a revolução digital é cor-de-rosa e que liberta o homem da sua estupidez coletiva ou da sua escravidão laboral. Não é isso que se vê acontecer…

O que é que vai acontecer a Macau? Responde o chatgpt: não se sabe, porque há muitas variáveis que hoje não estão garantidas e que têm a ver sobretudo com a dinâmica política e económica da China.

Mas há um movimento incontornável de integração da Macau na China e um esforço de diversificação económica, nomeadamente em setores como o das finanças e o das novas tecnologias… que abrem perspectivas positivas para o futuro de Macau.

Convenhamos: a resposta não envergonha ninguém. Não está muito longe daquilo que responderia um cidadão de Macau, com formação superior e alguma capacidade de reflexão.

Está claramente muito acima da média do que responderiam quatro em cinco entrevistados num inquérito de rua… E está ao alcance de toda a gente que tenha acesso à internet.

De facto, todos os dias se percebe a velocidade a que tudo muda… E esta é uma realidade que Macau tem de estudar, aprofundar, e nela investir recursos humanos e financeiros. Porque estes são os perfis de oportunidade que pode transformar uma cidade pequena numa grande plataforma para a modernidade. Seria certamente uma atitude muito inteligente – e muito pouco artificial.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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