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Será o fim anunciado da NATO como a conhecemos?

Luís Dias, coordenador do PS para a Defesa Nacional*

O início de mandato de Donald Trump ameaça as mais antigas alianças económicas com a Europa. Ameaça também as alianças militares e pode levar ao fim da NATO como a conhecemos.

Assistimos nestas últimas semanas a ataques ao Direito Internacional e Humanitário. Isto perante a aceitação por países que sempre contribuíram para a normalização e o equilíbrio da ordem mundial.

As declarações de responsáveis norte-americanos causam perturbação junto dos principais líderes mundiais e no Mundo Ocidental: colocando em causa a estabilidade da NATO, com pressão para os aliados aumentarem para 5% as despesas com a Defesa (algo que nem os EUA conseguem); com declarações de rutura com os países europeus, reescrevendo a História e assumindo a narrativa russa, fundada na desinformação (como fez JD Vance na Cimeira de Munique); afrontando a Ucrânia e a Europa com negociações de paz sem participação da Ucrânia; e atribuindo ao presidente ucraniano a responsabilidade pelo início da guerra, e colocando em causa a sua legitimidade democrática.

Se nos dissessem que veríamos os Estados Unidos da América (EUA) a aliar-se à Federação Russa, ninguém acreditaria. Mas está a acontecer e a estratégia dos EUA parece ser a de pôr em causa o modelo cooperativo com vários aliados, entre os quais a União Europeia (UE).

Aparentemente, para Trump é mais vantajoso partir a NATO, romper com a UE e promover uma aliança com a Rússia, estabelecendo novas relações individuais com cada país europeu. A Europa tem as suas próprias culpas, sobretudo por não ter percebido mais cedo o rumo que esta guerra poderia ter.

Que o foco americano estava no Indo-pacífico, não é novidade. Que o principal adversário económico, político e militar é a China, também não restam dúvidas.

Mas a forma leviana como se tem afrontado os países com uma relação económica e militar duradoura, isso não era expectável. Esta conduta coloca em causa a parceria com a UE e a própria NATO, que dificilmente permanecerá como a conhecemos hoje.

A NATO tem, no entanto, espaço para continuar. Sem os EUA sofrerá uma metamorfose estratégica, mas é preciso colocar esse cenário.

Precisamos de uma voz firme dos líderes europeus. É altura de pragmatismo e firmeza na defesa dos nossos valores. O apoio à Ucrânia e a sua adesão ao projeto europeu é determinante. A paz na Europa tem de ser alcançada de forma permanente e durável e as agressões russas não podem ser esquecidas, nem ficar impunes.

A atual posição dos EUA empurra-nos para uma mais rápida união interna europeia, mas também para um reforço das relações bilaterais com a China e com países em vias de desenvolvimento, como o Brasil e a Índia.

No final do dia temos de garantir que salvaguardamos algo que nos é precioso: o respeito pela autonomia e pela soberania de cada país. Só assim poderemos defender aquilo que somos e o estilo de vida europeu.

Tudo isto com uma “nova” NATO como ponta-de-lança na defesa das democracias europeias. Vai ser doloroso? Vai, mas é absolutamente necessário.

*Artigo originalmente publicado em Diário de Notícias

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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