Início » Papel crescente dos investidores institucionais nas criptomoedas

Papel crescente dos investidores institucionais nas criptomoedas

Robby Kwok, Presidente executivo da Associação de Interfluxo de Activos Digitais de Macau

Desde o nascimento do Bitcoin, em 2009, o mercado de criptomoedas sofreu mudanças significativas. O que começou como um mercado dominado por entusiastas da tecnologia e investidores individuais evoluiu para uma classe de ativos global, atraindo investidores institucionais como fundos de cobertura (hedge funds), de pensões e empresas da Fortune 500. Estes investidores trouxeram capital significativo, influência e legitimidade, remodelando o panorama do mercado e acelerando a adoção de ativos digitais.

Este artigo explora a forma como os investidores institucionais estão a influenciar o mercado das criptomoedas, aumentando a liquidez e moldando o futuro do mercado, mostrando esta tendência crescente com exemplos reais de algumas instituições proeminentes.

Do ceticismo à adoção progressiva

No início, os investidores institucionais estavam indecisos em relação às criptomoedas devido à elevada volatilidade, incerteza regulamentar e preocupações com a manipulação do mercado. No entanto, com o primeiro grande mercado em alta da Bitcoin, em 2017, essa visão começou a mudar. As instituições aperceberam-se gradualmente do potencial da tecnologia blockchain e do valor das criptomoedas na diversificação de ativos, e começaram a explorar formas de entrar no mercado.

Os principais factores que levam as organizações a adotar as criptomoedas incluem:

Amadurecimento do mercado: O desenvolvimento de bolsas regulamentadas (como a Coinbase Pro e a Binance) e de mercados de derivados, como os futuros de Bitcoin do CME Group, proporcionaram pontos de entrada mais seguros para as instituições.

Clareza regulamentar: A melhoria das orientações regulamentares em países como os EUA e a Europa reduziram os riscos relacionados com a conformidade.

Combate à inflação: Especialmente durante o Covid, as organizações olharam para a Bitcoin e outras criptomoedas como uma ferramenta de combate à inflação.

Integração tecnológica: O desenvolvimento da blockchain em termos de interoperabilidade, escalabilidade e segurança tornaram as criptomoedas mais atrativas para os investidores tradicionais.

Como os investidores institucionais influenciam o mercado

Aumento da liquidez: Investidores institucionais têm trazido entradas de capital significativas e reduziram a volatilidade dos preços ao longo do tempo. Esta injeção de capital torna a negociação mais fácil e ajuda a estabilizar os preços em benefício de todos os participantes no mercado.

Caso real: No início de 2021, a Tesla investiu 1.5 mil milhões de dólares em Bitcoin e planeava aceitar Bitcoin como forma de pagamento. A mudança não só validou o Bitcoin como um ativo corporativo, como também injetou uma quantidade significativa de liquidez no mercado. A Tesla motivou outras grandes empresas a seguir o exemplo; o fluxo de capital institucional aprofundou o mercado, aumentou a liquidez das transações e reduziu o impacto no preço das grandes transações.

Aumento da credibilidade: O envolvimento de instituições de renome trouxe legitimidade ao ecossistema das criptomoedas, atraindo investidores mais conservadores.

Caso real: A Fidelity Investments lançou a Fidelity Digital Assets em 2018, para fornecer serviços de custódia e execução a clientes institucionais. A sua entrada inspirou outros intervenientes financeiros tradicionais a seguir o exemplo. O apoio institucional reduziu o ceticismo externo e aumentou a confiança do público nas criptomoedas como uma classe de ativos legítima.

Promover a inovação dos produtos: A procura institucional de produtos financeiros de alta qualidade levou à inovação no espaço das criptomoedas.

Caso real: O lançamento do ETF ProShares Bitcoin Strategy (BITO), nos Estados Unidos, em outubro de 2021, foi um marco para o país, ao fornecer exposição ao Bitcoin num instrumento financeiro regulamentado. O Canadá aprovou o seu primeiro ETF Bitcoin ainda mais cedo, em fevereiro de 2021. Os ETF e outros produtos inovadores tornaram as criptomoedas mais acessíveis aos investidores institucionais e de retalho.

Quadro regulamentar: As instituições têm uma influência significativa nos decisores políticos, ajudando a equilibrar a relação entre a inovação e a proteção dos investidores.

Caso real: O Grayscale Bitcoin Trust (GBTC) deu o exemplo a outros fundos, ao trabalhar com os reguladores para garantir a conformidade e a transparência. O envolvimento institucional acelerou o desenvolvimento de um quadro regulamentar que incentiva uma maior participação, protegendo simultaneamente a integridade do mercado.

Lucro com criptomoedas: Algumas empresas estão a utilizar as criptomoedas não só para combater a inflação, como também para obter lucros significativos.

Caso real: A empresa tecnológica chinesa Meitu investiu em Bitcoin e Ether no início de 2021 e vendeu a totalidade das suas participações em Bitcoin e Ether em dezembro de 2024, realizando um lucro de 80 milhões de dólares. Esta transação mostra como as empresas podem utilizar as criptomoedas como ferramentas de cobertura e oportunidades de lucro. O sucesso da Meitu mostra que as empresas podem integrar as criptomoedas na sua estratégia financeira, como um ativo ou fonte de lucro.

Tipos de investidores institucionais

Fundos de cobertura: Foram dos primeiros a adotar as criptomoedas, utilizando-as para ganhos especulativos e diversificação da carteira de ativos.

Caso real: Pantera Capital foi um dos primeiros a centrar-se em investimentos blockchain e criptomoedas. Gere milhares de milhões de dólares em ativos e, em 2013, focou-se em investimentos na fase inicial de empresas de blockchain e na negociação de ativos criptográficos. Os fundos de cobertura impulsionam a descoberta de preços e a liquidez em mercados voláteis.

Fundos de pensões: Têm sido tradicionalmente conservadores, mas estão a começar a alocar uma pequena parte das suas carteiras em criptomoedas para ter crescimento a longo prazo.

Caso real: Em 2019, o Fairfax County, Virgínia, EUA, tornou-se num dos primeiros fundos de pensões a investir em tecnologia blockchain e criptomoedas, alocando 21 milhões de dólares para fundos de capital de risco blockchain. A entrada do fundo demonstra a crescente aceitação e confiança nas criptomoedas.

Fortune 500: As grandes empresas estão a incorporar as criptomoedas nos seus balanços e a explorar a tecnologia blockchain para melhorar a eficiência operacional.

Caso real: A MicroStrategy tornou-se num defensor proeminente do Bitcoin. Até finais de 2024, a empresa havia comprado mais de 423.650 Bitcoins, avaliados em 4.36 mil milhões de dólares. A adoção corporativa solidificou a posição do Bitcoin como uma reserva de valor e influenciou outras empresas a seguir o exemplo.

Crescente influência institucional

A participação de investidores institucionais está a remodelar o mercado das criptomoedas, aumentando a liquidez, promovendo a inovação e reforçando a credibilidade. A sua entrada assinala a maturação dos ativos digitais, abrindo caminho para uma adoção mais ampla. Embora persistam desafios, como a incerteza regulamentar e a volatilidade, histórias de sucesso como a venda de Bitcoin e Ether pela Meitu demonstram como as empresas podem utilizar as criptomoedas para obter ganhos financeiros e operacionais. À medida que as instituições continuam a explorar este domínio, o seu impacto irá, sem dúvida, moldar o futuro das finanças globais, colmatando o fosso entre os mercados tradicionais e a economia descentralizada.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!