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Da segurança nacional à economia em segurança

Paulo RegoPaulo Rego*

A Alfândega chinesa divulgou novos recordes do comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa; os melhores resultados de sempre nos primeiros oito meses do ano. Há várias conclusões óbvias: sem Brasil, a Lusofonia é o que é; a China recupera os números perdidos durante a política de COVID zero; e Macau faz parte de uma narrativa para a qual continua a não contribuir com resultados relevantes. Nunca serão centrais no bolo total, mas têm pelo menos de contribuir para a sua própria diversificação económica.

Entre Janeiro e Agosto, as exportações lusófonas para a China aumentaram 4,9 por cento, para 97,6 mil milhões de dólares. Na direção oposta, a China exportou mercadorias no valor de 58,5 mil milhões de dólares, aumento anual de 19,7 por cento; também recorde no mesmo período do ano. O Brasil lidera em ambos os casos: exportou 81,5 mil milhões de dólares e importou 49,5 mil milhões; seguido de Portugal, que exportou 2,09 mil milhões de dólares e importou 4,19 mil milhões.

A relação de Pequim com blocos como o dos BRICS, ou da Lusofonia, ganham força numa estratégia que procura relançar a economia chinesa por via das relações internacionais. Mas não chega. A Europa, maior mercado consumidor do mundo, o resto da América Latina – já para não falar dos Estados Unidos – não podem ser descorados por quem procura fugir à produção intensiva, com mão de obra barata, e a um PIB artificialmente suportado pela construção – génese da bolha imobiliária. A grande incógnita continua a ser a Índia, que resiste engrossar o bloco antiamericano e mantém relações dúbias com a China e a Rússia.

Com mais ou menos abertura, na China ou a Ocidente, Macau tem de aproveitar a oportunidade criada pela estratégia chinesa de abertura

Num mundo cada vez mais dividido, face às posições de conflito em teatros de guerra como os da Ucrânia e da Palestina, Pequim reforça contatos em todas as capitais, tentando reabrir mercados e multiplicar alianças que alavanquem exportações e captem investimento. A isenção dos vistos para a China, a nova aposta na estratégia da “Faixa e Rota”, e a atração de capital, são apenas os sinais mais óbvios de que tudo mudou depois do COVID. Não porque a ideologia dominante perca terreno, mas porque a realidade económica o exige. Depois do foco na segurança nacional; dos tempos em que a ideologia era mais importante do que a economia; a China entra numa nova era: não perde o foco na segurança do regime, nem nos discursos contra a interferência estrangeira; contudo, o controlo é agora instrumento para abrir a China a novos mercados e fluxos de investimento. O mantra é agora economia em segurança.

Neste contexto, é crucial o resultado da eleição norte-americana, já a 5 de Novembro. Donald Trump é imprevisível; mas, se vencer, o seu posicionamento, cada vez mais radical, terá consequências globais contraditórias. Primeiro, dificilmente patrocinará a NATO e a guerra na Ucrânia, o que beneficia Rússia e China; depois, será ainda mais radical no apoio a Israel; o que prejudica interesses sino-árabes; por fim, será comercialmente protecionista, o que prejudica a China, de forma direta, mas beneficia a diplomacia de Pequim na Europa, pois Trump é persona non grata na maioria das democracias liberais.

Com mais ou menos abertura, na China e a Ocidente, Macau tem de aproveitar a oportunidade criada pela estratégia chinesa de abertura. Sendo a Lusofonia o seu principal alvo, o novo ciclo de Sam Hou Fai tem de incentivar investidores e a comunidade lusófona local a se afirmarem – definitivamente – neste contexto. Se não o fizerem, mais cedo do que tarde desembarcará aqui massa crítica continental – bilingue ou não – capaz de o fazer. Não é uma opção; é uma oportunidade; ou acabará por se tornar um problema.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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