Quem imaginaria, há meia dúzia de anos, que o mundo estaria hoje em acelerada inflação, numa “guerra” interminável à Covid-19 e a invasão da Ucrânia a expor a nu a ilusão de estabilidade erguida com a queda do muro de Berlim.
O segredo mais mal guardado é que todos os sinais anunciam uma profunda recessão económica. Mas há pior: um choque civilizacional que tudo resume a bons e maus – que é sempre a pior ideia.
Macau vive a crise de forma condensada. É sempre muito intenso numa cidade pequena que se fez grande pela circunstância da transição de poderes e pelo boom da indústria do jogo. Hoje, exceção feita à inflação – está, de facto em deflação – enfrenta a pandemia da forma mais radical. A cada dia que passa… com piores consequências.
Ho Iat Seng agarra-se a um argumento que até faz sentido: não quer abrir a fronteiras a ocidente, para não perder o corredor da nação oriental. Politicamente defende-se. Diria mesmo que aponta a um segundo mandato.
Apesar da idade; e do isolamento a que condenou o Palácio, cada vez mais longe da cidade, das pessoas, da vida real… Os números são claros: da China não vem a receita que alimenta os casinos; nem a diversificação acelerada que a Grande Baía acenou. Reality bites…
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Hong Kong abriu a porta ao ocidente. Mas de facto de pouco lhe serve, se não fizer a ponte para o oriente. É esse o seu ADN; foi sempre essa a fórmula de sucesso.
A ideia de que podia manter o estatuto de praça financeira e um nível de vida sofisticado, desafiando a China, nunca passou de uma falsa boa ideia. Macau faz precisamente o oposto; tese que não é melhor nem pior. É simplesmente disfuncional.
Num mundo cada vez mais tenso e incerto, as regiões autónomas da China precisam como do pão para a boca de cumprir o seu papel histórico: ligar culturas, políticas e economias. Em bom rigor, o mundo em geral precisa cada vez mais desses focos de luz.
Medir o tamanho da língua, ou da pistola, leva-nos a um beco escuro e sem saída.
Ou mesmo ao abismo.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA