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Numa década, 10 mil professores desistiram de ensinar

Instabilidade da carreira, burocracia em demasia, perda de autoridade e excesso de alunos por turma são alguns dos motivos, apontados pelos docentes ao DN, que os levaram a sair do ensino. Ricardo Cabral lecionou Informática de 2006 a 2014. Abandonou o ensino e não pretende regressar. “A principal razão da minha saída foi, no ano letivo 2013-2014 só ter conseguido colocação em fevereiro e muito distante da minha residência (mais de 350 km). Essa originou outra, que foi o baixo rendimento. Tive de arranjar alojamento no sítio onde dava aulas, e só o alojamento levava quase metade do meu rendimento. Com duas crianças pequenas, obviamente que vinha todos os fins de semana a casa, o que originava mais despesas em combustível, portagens, etc.”, recorda.

Ricardo Cabral está longe de ser um caso raro. “Mais de 10 mil professores saíram da profissão e não estão para voltar porque as condições são as que nós sabemos. Não vale a pena tentar fingir que não existe este problema.” A afirmação é de Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, que sublinha tratar-se de um problema antigo. “Fomos alertando e nunca foi motivo de grande preocupação. Os números não enganam”, afirma o dirigente sindical, sobre um problema que se reflete nas escolas portuguesas: faltam professores e sobram alunos que não conseguem ter as aulas todas, quatro meses passados sobre o início do ano escolar.

Ricardo Cabral regressou à indústria de tecnologias de informação, onde tinha trabalhado antes do início da carreira docente, mas continua “atento” aos problemas da educação e dá sugestões para reverter a falta de professores. “O salário terá de ser sempre o primeiro ponto a ter em consideração. A progressão na carreira é muito lenta e com poucos incentivos salariais. Outra das medidas tem também de passar pelo respeito à entidade professor”, diz.

Susana Azevedo, antiga professora do 1.º ciclo, também não pretende regressar ao ensino, porque acredita ser “impossível não ficar longe de casa”. Abraçou a carreira por vocação, em 2007, e, depois de várias dificuldades para encontrar estabilidade, mudou de área. “Como professora contratada a colocação em cada escola era temporária, sempre por substituição. Mantive-me nesta situação até 2011. Ainda integrei o IEFP, como formadora, até finais de 2012. Após essa altura, já com dois filhos, sem apoio familiar próximo e com o marido com um emprego com limitações à vida familiar (agente da PSP), concorrer para longe tornou-se impossível e próximo da área de residência não conseguia colocação”, explica.

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