A Universidade da Cidade de Macau ganhou perto de 43000 metros quadrados ao expandir-se para o antigo campus da Universidade de Macau. Com a atribuição de nove edifícios — um dos quais é arrendado —, o reitor Zhang Shu Guang afirma, em entrevista ao PLATAFORMA, que a instituição de ensino superior está agora em condições para crescer qualitativamente, ainda que a competição seja grande. Para o futuro, a aposta é no crescimento de programas que favoreçam o papel de Macau enquanto plataforma nas relações entre a China e os países de língua portuguesa.
Plataforma – Em que se traduz esta expansão para a Universidade da Cidade de Macau?
Zhang Shu Guang – A Universidade da Cidade de Macau já tem uma longa história — acabámos de comemorar o 35º aniversário.
A Universidade da Cidade de Macau teve a grande oportunidade de regressar ao campus, porque quando a Universidade foi fundada — na altura, chamava-se Universidade Aberta Internacional da Ásia—, era aqui que se situava.
No que toca ao espaço e às infra-estruturas, esta oportunidade é significativa, muito apreciada pelos nossos pais, alunos, partes interessadas e funcionários. Estamos em melhores condições para gerir uma universidade de elevada qualidade.
Quantos edifícios estão a ocupar no antigo campus da Universidade de Macau?
Z.S. G. – O Governo atribuiu-nos nove edifícios. Pagamos uma renda por um — é o sede da equipa. Quanto aos restantes,
incluindo o centro administrativo, o centro cultural e, muito recentemente, o edifício Tai Fung, garantiram-nos um espaço físico. Os nossos estudantes estão muito satisfeitos. Agora temos espaço para salas de aula modernas, melhorámos os escritórios e, mais importante, agora temos espaço para os estudantes comunicarem e interagirem. Temos espaço para construir laboratórios — o laboratório multimédia é um bom exemplo e também o laboratório de Psicologia Aplicada. É uma melhoria.
Entre os edifícios que estão atualmente a operar, quais já estão concluídos?
Z.S. G. – Todos, excepto um — o que nos foi atribuído há duas semanas [Tai Fung] e que estamos prestes a renovar. Esse edifício foi ocupado por um departamento de Governo, fizeram algumas renovações e queremos instalar salas de aulas ali.
Tudo o resto está mais ou menos concluído, mas ainda temos alguns projetos por terminar. Em primeiro lugar, quando mudámos para aqui, não tínhamos qualquer espaço de refeições. Em todo o campus, não há qualquer espaço de refeições — um dos edifícios que foi atribuído ao Instituto Politécnico de Macau albergava o bar. Segundo o meu entendimento, a ideia era de que esse espaço servisse todos os que operam no campus. Há três universidades aqui e um centro de formação do Governo — o Instituto Politécnico de Macau, o Instituto de Formação Turística e todos eles têm uma grande parte do campus. Dada esta situação, precisamos de usar algum espaço para servir, pelo menos, uma sandes. Não será propriamente uma cantina ou um café, será um espaço onde servimos sandes e refeições ligeiras.
Além disso, neste campus não temos um ginásio, por exemplo. Ainda que o nosso espaço seja limitado, temos de providenciar este espaço. Estamos a tentar transformar um dos edifícios numa espécie de ginásio.
Também precisamos de transformar o campus numa instituição verde — amiga do ambiente — e, por isso, esperamos que no parque central [do campus] possamos fazer algumas alterações. Queremos preservá-lo, mas queremos transformar o espaço de forma a que os estudantes possam interagir uns com os outros.
Quando espera ter estes projetos concluídos?
Z.S. G. – No fim do Verão.
O antigo edifício que ocupava a Universidade da Cidade de Macau ainda é utilizado?
A Universidade tem uma tradição de apostar no desenvolvimento contínuo. Assim, o edifício original da Universidade da Cidade de Macau continua a ser usado de uma maneira que funciona para os nossos alunos, em particular para os alunos com aulas à noite e aos fins-de-semana. O nosso plano é continuar a usá-lo. Continuamos a ter as aulas à noite e aos fins-de-semana e continuamos a manter alguns laboratórios de ensino.
Quanto aumentou a área da Universidade da Cidade de Macau, com esta mudança de campus?
Z.S. G. – Segundo as nossas estimativas, agora temos uma área de 45000 metros quadrados. Dantes, tínhamos uma área de 2000 metros quadrados. Aumentámos bastante.
Com este aumento de espaço, mudam também os objetivos da Universidade da Cidade de Macau?
Z.S. G. – Em primeiro lugar, ajuda na transição. Quando a Universidade da Cidade de Macau começou a ser criada, em 2011, o nome foi mudado e a gerência mudou, além do sistema. E o sistema educativo da Universidade era suposto ser transformado. Assim, dantes, o ênfase era na educação contínua. Com esta mudança para o novo campus, esperamos dar mais ênfase aos cursos com diploma, à educação bem como à investigação, além dos serviços à comunidade. Esta seria uma grande mudança a ter lugar. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas lá chegaremos.
Podemos esperar novos cursos?
Z.S. G. – A prioridade é aumentar a qualidade dos programas existentes. Tentaremos rever os que já existem — aliás, nos últimos seis meses, já começámos um processo de revisão interna de todos os programas existentes, conduzimos sondagens junto dos alunos, pais e outras partes interessadas, além de termos consultado especialistas, também para ter uma perspetiva de qual será o rumo do ensino superior. Teremos em conta as necessidades do mercado.
Por exemplo, Macau sempre foi elogiada pelo seu papel de plataforma nas relações económicas e comerciais entre a China e os países lusófonos. Promover os estudos dos países de língua portuguesa é uma área que já identificámos e que queremos fazer crescer. No que toca aos programas com diplomas, temos de submeter a aprovação ao Governo tanto um mestrado como uma licenciatura em Estudos dos Países de Língua Portuguesa.
Temos de servir a cidade, temos consciência da necessidade de melhorar o serviço de trabalho social. Assim, há um mês submetemos uma aplicação para uma licenciatura em trabalho social, que esperamos que seja aprovado.
No geral, com esta expansão para o antigo campus da Universidade de Macau, já aumentaram o número de alunos?
Z.S. G. – Ainda que tenhamos uma grande localização, não temos o objetivo de aumentar o número de alunos. Em primeiro lugar, somos uma universidade privada — precisamos de ter um dado número, para tornar a universidade sustentável. A nossa preocupação não é com o número, mas com a qualidade dos programas que temos e da investigação que o nosso corpo docente produz e a qualidade do serviço que prestamos à comunidade local. Estamos em boas condições, no que toca aos números.
Já são sustentáveis?
Z.S. G. – Estamos muito perto. Mas esse número pode mudar. Aproximadamente, temos entre 5.100 e 5.300 alunos.
Qual será o número da sustentabilidade?
Z.S. G. – Ficaremos relativamente confortáveis, quando chegarmos aos 6000 alunos.
Enquanto instituição de ensino superior privada, as nossas receitas vêm das propinas. Claro que temos um [pequeno] subsídio do Governo e ainda há quem doe fundos à Universidade. Precisamos de ter um número confortável [de alunos] para a Universidade.
Um dos objetivos é também apostar no Departamento de Programas Portugueses. De que forma?
Z.S. G. – Temos um pequeno departamento, mas que tem funcionado bem. Também providenciam formação — os programas de formação a empresários de países lusófonos têm sido bem sucedidos. Claro que se pode perguntar se já é tempo de ter um curso de Português. Infelizmente, não sabemos quando. Tem de passar por um longo processo — temos um processo rígido interno de certificação da qualidade no que toca a qualquer programa novo que tenhamos de lançar.
Não irá acontecer no próximo ano curricular?
Z.S. G. – Leva seis a oito meses internamente e depois tem de se submeter ao Governo — e isso leva mais seis a oito meses até ser aprovado. Depois disso, leva mais um ano, para que se consiga recrutar alunos e professores.
Será uma licenciatura ou um mestrado?
Z.S. G. – Ainda não sabemos. O que posso dizer-lhe é que no nosso curso em Estudos dos Países de Língua Portuguesa [cujo arranque está previsto para 2017/2018] temos uma componente forte de língua portuguesa. Será um programa-piloto para nós.
Estamos muito empenhados nisto. Mas a estimativa de alunos de Macau no ensino secundário não tem sido muito promissora — espera-se nos próximos anos um declínio do número. Quando tivermos um novo programa, queremos que cresça. Caso contrário, será de elevado risco.
Dos alunos atualmente inscritos na Universidade, quantos são locais?
Z.S. G. – Perto de 70 por cento. Quanto aos restantes, são da China Continental e de outros países. Temos 200 alunos internacionais, que não vêm da China Continental.
Dada a previsão de declínio de alunos locais, haverá uma maior aposta nos alunos internacionais?
Z.S. G. – O Governo tem uma quota para qualquer programa existente e novo. Temos de cumprir. Mesmo que não consigamos preencher a quota, não podemos usar o remanescente para recrutar alunos da China Continental. Pode não ser sempre 70 por cento — em média, 50 por cento serão locais e 50 de fora.
Nesse caso, esperam que a percentagem de alunos internacionais cresça de 30 para 50 por cento?
Z.S. G. – Queremos ter mais alunos locais, mas a concorrência é forte. Agora temos a Universidade de Macau maior. O Instituto de Formação Turística tem uma grande parte do campus antigo da Universidade de Macau — aliás, em termos de metros quadrados, têm quase o mesmo que nós, mas têm melhores infra-estruturas. Ainda que só tenham três edifícios, cada um deles é muito grande e moderno. Nós não temos uma única cama neste campus, nem uma única cama. Temos de encontrar dormitórios para os alunos, noutro sítio, junto da comunidade. Aliás, não temos aulas de manhã cedo, porque não queremos que venham a correr. Não me estou a queixar, mas este é o tipo de dificuldades que enfrentamos.
Precisariam de espaço extra — pelo menos, de espaço para dormitório?
Z.S. G. – Sim. Isso beneficiaria a vida universitária dos alunos.
Atualmente, está em discussão na Assembleia Legislativa a lei do ensino superior. O que mudará para a Universidade da Cidade de Macau com a aprovação deste diploma?
Z.S. G. – Espero que seja aprovada, muito em breve. O período de revisão dura há demasiado tempo.
Em primeiro lugar, os nossos alunos teriam uma educação muito melhor em termos internacionais — a Universidade estaria numa melhor posição para criar programas de intercâmbio, sejam semestrais ou no Verão. No próximo Verão, planeamos enviar os estudantes para Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Portugal para programas de intercâmbio. As suas experiências serão muito mais enriquecedoras.
Em segundo lugar, a Universidade terá mais autonomia para gerir os seus próprios programas — claro que temos sempre de obedecer aos padrões definidos no que toca à revisão de programas, fiscalização e acreditação.
Em terceiro lugar, a nova lei é muito mais conforme à realidade, dando ênfase a programas de investigação, mas também a programas que desenvolvem competências práticas.
Este atraso tem prejudicado de alguma maneira Universidade da Cidade de Macau?
Z.S. G. – Esperamos que saia o mais rapidamente possível, mas percebo por que leva tanto tempo. Mostra como o Governo valoriza o ensino superior. Quando tivermos uma lei, não podemos mudá-la. Terá de antecipar os problemas. Prefiro que a lei seja sólida e que se aguente algum tempo do que ter uma que seja revista periodicamente — isto criaria muitas dificuldades.
Havendo essa competição entre as várias universidades, qual será o foco da Universidade da Cidade de Macau para sobreviver?
Z.S. G. – Precisamos de construir a nossa vantagem competitiva.
Esperamos que a nossa Universidade seja conhecida pela comunidade e pelos colegas da região por vários aspetos. Em primeiro lugar, é uma verdadeira Universidade da Cidade — é um modelo conhecido ao nível mundial, queremos ser conhecidos como uma Universidade da Cidade bem sucedida, servimos a cidade de Macau.
Depois, queremos ser conhecidos por ter programas excelentes em ciências sociais, artes e humanidades. Também queremos ser conhecidos por ter um bom equilíbrio entre o ensino orientado para a investigação e a educação prática.
Luciana Leitão