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Quotas de turismo descartadas

Nem mesmo a chuva intensa impediu Macau de receber cerca de 600 mil turistas durante a Semana Dourada do Dia do Trabalhador. As quotas de turismo voltam a ser conversa, numa altura em que não se sente o impacto económico da grande afluência de visitantes, mas as autoridades descartam essa possibilidade

Guilherme Rego

A Semana Dourada do Dia do Trabalhador terminou com números francamente positivos: mais de 604 mil turistas passaram por Macau, perfazendo uma média diária de 120.879 visitantes. Embora represente 84 por cento do volume turístico em 2019, o último ano pré-pandémico, e 122 por cento face ao ano passado, as autoridades do turismo esperavam mais, dado que as previsões lançadas na véspera da época festiva sugeriam 130 mil visitantes por dia. Esta é a primeira vez desde a pandemia que as autoridades são surpreendidas pela negativa, o que força a pergunta: o que aconteceu?

O tempo definitivamente não ajudou. Desde o Dia do Trabalhador, a 1 de maio, que a chuva intensa assolou a cidade. Pela primeira vez em três anos, a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) içou o sinal de chuva intensa preto – o mais elevado – devido às chuvas intensas que caíram em Macau no dia 4. As Portas do Cerco sofreram inundações na estação subterrânea de autocarros e mesmo no posto fronteiriço, o que levou à interrupção do funcionamento das máquinas de passagem automática. Esta fronteira é, desde sempre, por onde mais visitantes chegam a Macau e manteve esse estatuto: 297.316 entradas de turistas, à frente da fronteira da Ponte de Hong Kong-Zhuhai-Macau (99.512) e Posto Fronteiriço de Hengqin (92.454). Fazendo as contas, 43 por cento dos visitantes entraram pelas Portas do Cerco. Apesar das visíveis dificuldades, a percentagem de entradas por este posto fronteiriço foi maior do que no ano passado e na Semana Dourada do Ano Novo Chinês mais recente.

Procura continua

Outro factor a ter em conta é a procura. Pouco mais de um ano desde a reabertura das fronteiras com a China, são várias as entidades que apontam para uma diminuição da procura a nível mundial.

A Oxford Economics avisava no início do ano que o fervor por viagens não iria durar muito mais. “Os consumidores chineses estão a perder rapidamente o entusiasmo após o surto inicial de gastos com a reabertura. O desemprego elevado, os efeitos negativos sobre a riqueza do setor imobiliário em dificuldades e o fraco crescimento dos salários não constituem um bom pano de fundo para gastar em férias no estrangeiro”. E apesar de destacar também a elevada procura por Macau, o relatório reiterava que o interesse do turista chinês iria diminuir. Ao nosso jornal, Glenn McCartney, académico da Universidade de Macau, explica que Macau acabou por também perder as vantagens que tinha para receber os turistas chineses. A China tem negociado isenções de visto com vários países, facilitando as suas deslocações para o estrangeiro.

“Queremos ter um vasto número de turistas, mas como é que isso se traduz em gastos?”
Glenn McCartney, professor de Gestão de Turismo e Resorts Integrados na Universidade de Macau

Mesmo assim, o número de viagens domésticas na China durante este período ultrapassou inclusive o período homólogo pré-pandémico. A China registou cerca de 295 milhões de viagens turísticas domésticas nos feriados do Dia do Trabalhador, mais 7,6 por cento em termos homólogos e mais 28,2 por cento relativamente ao mesmo período de 2019, de acordo com o Ministério da Cultura e Turismo. O número diário de viagens atingiu o pico na sexta-feira, com um recorde de mais de 1.8 milhões. Cerca de 4.77 milhões eram viajantes do Continente, enquanto os viajantes de Hong Kong, Macau e Taiwan representaram 2.92 milhões e os visitantes estrangeiros 779.000. Estes três números representam aumentos substanciais em relação ao ano anterior, com subidas homólogas de 38 por cento, 20,8 por cento e 98,7 por cento, respetivamente.

Impacto económico pouco visível

A diretora dos Serviços de Turismo de Macau (DST), Maria Helena de Senna  Fernandes, rejeita limitar o número de turistas que entram em Macau de cada vez

Durante este período, a taxa média de ocupação nos hotéis chegou aos 89,2% – um aumento em 4,5 pontos face ao ano passado. Embora os hotéis continuem a recuperar receitas, o mesmo não acontece nas zonas residenciais que, segundo dados da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro, Sul e Distritos, tiveram quebras de 30 a 40 por cento no negócio. A responsabilidade da queda foi atribuída ao tempo, sendo que a zona Norte acabou por beneficiar disso. Segundo Wong Kin Chong, presidente da Associação Industrial e Comercial da Zona Norte de Macau, os residentes acabaram por permanecer e consumir na cidade.

“Queremos ter um vasto número de turistas, mas como é que isso se traduz em gastos?”, questiona Glenn McCartney. O professor da Faculdade de Gestão de Turismo e Resorts Integrados explica que “não há uma disseminação do turismo por toda a cidade”, apontando para aquilo que tem defendido há vários anos: “É necessário quotas para turistas”, para que o número de visitas ganhe expressão económica e não haja uma sobrecarga nos recursos da cidade. Esta ideia, porém, não é bem vista pelas autoridades de turismo. A diretora dos Serviços de Turismo de Macau (DST), Maria Helena de Senna Fernandes, rejeita limitar o número de turistas que entram em Macau de cada vez. Numa entrevista à TDM, afirmou que uma quota teria um efeito adverso em Macau, dada a forte dependência da cidade ao turismo. A responsável questionou ainda como é que um tal esquema poderia ser implementado. “Se houver uma limitação, significa que temos de escolher” quem entra e quem não entra.

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Generalist media, focusing on the relationship between Portuguese-speaking countries and China.

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