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Instituto Cultural “censura” espetáculos em nome da “qualidade”

Miguel de Senna Fernandes, fundador e encenador do Dóci Papiaçám di Macau, denunciou no Canal Macau da TDM o controlo dos conteúdos que o Instituto Cultural (IC) está a exercer nos espetáculos do Festival de Artes. A mesma atitude vem sendo criticada por outros grupos artísticos, que em circunstâncias diferentes se queixam de lhes terem sido exigidas alterações ao conteúdo dos espetáculos. Em reposta ao PONTO FINAL, o IC confirmou o controlo prévio, alegando que a análise prévia dos guiões se destina a garantir “obras artísticas de qualidade”

Miguel de Senna Fernandes criticou a postura do IC, deixando o aviso: se forem exigidas alterações; ou seja, se houver algum tipo de censura ao espetáculo dos Dóci Papiaçám, “vai naturalmente haver protesto”. O IC “é um bom parceiro e, para que isto funcione, é necessário que confie no que nós fazemos. Andar a ver os guiões e analisar… Isso não tem pés nem cabeça. Não pode ser assim”, afirmou Senna Fernandes ao Canal Macau da TDM. “Esperemos que impere a boa fé e a confiança mútua. Só assim é que as artes de Macau podem florescer”, concluiu.

Em janeiro deste ano, surgiu o primeiro sinal público de que o Instituto Cultural passou a intervir diretamente no conteúdo dos espetáculos que patrocina. Durante o Fringe, foi suspenso o espetáculo “Feito pela Beleza”, da companhia Utopia da Miss Bondy. O show burlesco vinha com classificação para maiores de 18 anos e anunciava “linguagem obscena e nudez, que poderia ofender a sensibilidade de alguns espetadores”. Leong Wai Man, presidente do IC, justificou na altura o cancelamento alegando que o conteúdo divergia do guião apresentado na candidatura ao festival.

O Governo “tem autoridade para negociar o conteúdo dos espetáculos”, uma vez que “os artistas são convidados pelas autoridades de Maca

Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural

Também o Hoje Macau denunciou recentemente a exigência que o IC fez de alterações ao espetáculo de dança contemporânea “Os Três Irmãos”, com coreografia de Victor Hugo Pontes e texto de Gonçalo M. Tavares, que acabou por ser adaptado de acordo com a exigência oficial. No mesmo contexto, o portal All About Macau noticiou que um espetáculo da Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra foi retirado da programação do ano passado do Festival de Artes de Macau, sem explicação plausível.

O PONTO FINAL confrontou o IC e o gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura sobre estas denúncias, questionando as autoridades sobre a liberdade criativa dos grupos artísticos. Na resposta, o IC admitiu que exige aos grupos artísticos que, “antes da realização de atividades/espetáculos, entreguem o guião/alinhamento do programa, as informações técnicas e o calendário, etc”. O argumento transmitido àquele diário foi o de que o objetivo não seria o de censurar, mas sim o de “dominar o respetivo conteúdo e apresentar obras artísticas de qualidade ao público em geral, sob o princípio do respeito mútuo com os criadores e produtores”.

Citada no início da semana pela imprensa chinesa, a presidente do IC, Leong Wai Man, comentou as acusações de censura aos espetáculos do Festival de Artes, defendendo a tese de que o Governo “tem autoridade para negociar o conteúdo dos espetáculos”, uma vez que “os artistas são convidados pelas autoridades de Macau”.

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