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Extensão do Metro Ligeiro muda vida dos residentes?

No que toca às deslocações, o impacto não será grande. A ligação à Taipa não satisfaz as necessidades da maioria da população. Contudo, a ligação ao Cotai pode significar maior afluência de turistas nos bairros comunitários. Pessoal ligado ao setor de transportes acredita que os negócios nas zonas antigas da cidade podem sair beneficiados

Nelson Moura

Quatro anos e muitas patacas depois, o Metro Ligeiro atravessou pela primeira vez o rio para ligar a Barra à Taipa. A linha de 3.4 quilómetros entre a Barra e o Jardins do Oceano, na Taipa, demorou cerca de cinco anos a ser concluída. Só a construção da estação da Barra em si custou 1.1 mil milhões de patacas.

Ao PLATAFORMA, vários comentadores consideram a extensão como um marco importante para a rede de transportes da cidade. Para Kou Kun Pang, antigo membro do Conselho Consultivo de Trânsito, “o metro pode realmente servir alguns cidadãos, especialmente aqueles que trabalham na área do Cotai. Atualmente, chegar a essa zona envolve entrar um autocarro que passa pelo centro da cidade, atravessa a ponte e vai a várias áreas da Taipa até finalmente chegar aos casinos e hotéis do Cotai. É uma jornada grande”, reflete. Com a nova ligação, alguns residentes vão demorar apenas 15 minutos a partir do centro intermodal, diz o também professor associado do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Macau.

Mesmo assim, trata-se de um grupo reduzido de residentes, com a maior parte da população a optar pelos transportes habituais. Kou salienta que a ligação de outras áreas à estação da Barra “ainda é uma preocupação”, dadas as “dificuldades históricas enfrentadas pelos serviços de autocarro de Macau”. Na sua opinião, “melhorar essas ligações é crucial para maximizar o impacto deste novo centro intermodal para os residentes locais”.

Iniciar planos para interligar as Linhas Leste e Oeste, formando um circuito circular coeso, aprimoraria
muito os benefícios do sistema do Metro Ligeiro
Kou Kun Pang, antigo membro do Conselho Consultivo de Trânsito

Para Ben Leng, presidente da Associação Geral dos Comerciantes de Trânsito e de Transporte de Macau, o metro é o único transporte coletivo público que não pressiona a rede de trânsito local. O líder associativo realça que a primeira fase do Metro Ligeiro na Taipa, com apenas onze paragens e nove quilómetros de distância, não teve “nenhum efeito no trânsito de Macau”, mas que a abertura da nova estação pode ser uma oportunidade para a economia dos bairros antigos. “O metro não só deve elevar a eficácia do trânsito em Macau, como também pode dar impulso à economia comunitária.”

Conveniência para turistas

Embora Kou não veja grande impacto na vida dos residentes, acredita que para o fluxo turístico esta nova linha é uma “adição valiosa”.

A extensão está “próxima do Templo de A-Má, um ponto turístico importante”, e “oferece acesso direto para visitantes da área do Cotai”. Além disso, há “várias atrações por perto, como o centro da cidade de Macau, as Ruínas de São Paulo e o Museu de Macau”, destaca.

“São locais facilmente acessíveis a pé a partir da nova estação, tornando-a uma adição valiosa para os turistas. Essas melhorias marcam avanços significativos na rede de transportes de Macau.”

O antigo membro do Conselho Consultivo do Trânsito destaca que o foco agora deve virar-se para o que foi delineado no Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau (2021-2030), nomeadamente o desenvolvimento de uma Linha Oeste que consiga ligar a Barra às Portas do Cerco.

“Embora seja complexo em termos de tecnologia e engenharia, os cidadãos de Macau apoiam esse desenvolvimento. Iniciar planos para interligar as Linhas Leste e Oeste, formando um circuito circular coeso, aprimoraria grandemente os benefícios do sistema do Metro Ligeiro”, nota.

Problemas de rentabilidade

Em declarações ao PLATAFORMA, o deputado Ron Lam U Tou confessa não ter grande esperança de que a estação da Barra melhore significativamente o trânsito de Macau. Contudo, defende que a extensão “vai impulsionar ainda mais o volume de passageiros”.

Em agosto, a linha de metro da Taipa registou um aumento notável no volume diário de viajantes, atingindo uma média de 9.150 passageiros. Nesse mês registou-se a maior média diária desde o início da operação da linha, em fevereiro de 2020. Porém, em novembro, a média caiu para 6.500. O deputado acredita que a ligação entre Macau e Taipa pode subir a média diária para 10.000 passageiros.

Mas Lam avisa que a maior parte dos residentes deve continuar a usar a rede de autocarros, sobretudo pelo preço. Para quem viaja até três estações do metro, o preço do bilhete fica em 6 patacas, entre quatro e seis estações 8 patacas e entre sete e nove estações o preço é 10 patacas. O escalão mais caro, entre as 10 e 12 estações, custa 12 patacas.Além disso, métodos de pagamento como Mpay ou Alipay ainda não estão disponíveis.

Sem ter uma ligação mais direta ou descontos, muitos residentes não têm incentivos para usar o Metro Ligeiro
Ron Lam, deputado local

A tarifa de autocarro tem atualmente um custo máximo de seis patacas, e é menor para certos residentes.

Na opinião do deputado, o preço dos bilhetes do Metro Ligeiro não são elevados quando comparados às regiões vizinhas, mas continua a ser mais caro que os autocarros.

Acrescenta também que “apenas uma pequena parte das pessoas tem como destino final a Barra, o que significa que muitos passageiros ainda vão ter de mudar para um autocarro de forma a chegar ao seu destino. Sem ter uma ligação mais direta ou descontos, muitos residentes não têm incentivos para usar o Metro Ligeiro.”

A rentabilidade do Metro Ligeiro é também uma questão premente. A empresa de capitais públicos Sociedade do Metro Ligeiro registou em 2022 as receitas de bilheteira mais baixas e o menor volume anual de passageiros transportados desde a sua inauguração.

No ano passado, as receitas de bilheteira foram de apenas 937.511 patacas, com cerca de 490 mil passageiros a usufruir da linha. Kou Kun Pang lembra que a nova instalação não foi projetada para grande exploração comercial, ao contrário do que a MTR Corporation fez em Hong Kong. “Considerar esse aspeto poderia ser importante para o futuro”, conclui Kou.

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