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Meio cheio, meio vazio

Mais nacionalista, menos progressista… ainda assim Macau continua uma cidade aberta, incluindo casinos americanos e relações especiais com os Países de Língua Portuguesa. Há sempre nestes momentos méritos não reconhecidos, e críticas por fazer. Podia ser melhor. Mas há por aí muito pior.

O respeito pela Mãe Pátria não implica o desprezo pela autonomia nem pelo direito à diferença. Para quem se esqueceu, foi Pequim que desenhou a exceção ao resto do País. Como em qualquer outra parte do Planeta, a China de hoje provavelmente não é a de amanhã. E Macau, porta para outros mundos, devia mesmo abraçar o vanguardismo. Porque isso lhe serve – e serve a China. Mas não há essa energia. Nem sequer a consciência dessa responsabilidade – e oportunidade.

O facto é que esse vazio da excitação política – e civilizacional – é bem mais vasto. A Europa está em guerra e já nem pensa sem armas. Em Inglaterra, um líder de origem indiana dirige uma potência que em nome do nacionalismo saltou do comboio da Europa para um deserto de ideias. No Brasil, Lula da Silva diz uma coisa, contradiz-se logo a seguir, e tem um exército de governantes a explicar o inexplicável. Em França, Macron já não tem bandeira alguma a não ser a que empunha contra Le Pen. E quem pode, em sã consciência, ver Joe Biden com a luz do futuro? Pior ainda: se Trump é um ícone da democracia liberal… aceito inventar outro qualquer.

Macau tem problemas, dúvidas e angústias… o grau de autonomia e as liberdades que Pequim quiser – abrindo a janela com vista para o mundo. Podia ser melhor, houvesse arte e engenho. Mas também é verdade que há muito pior – quer a oriente quer a ocidente – e onde muito mais se devia exigir.

Há em Macau um copo meio cheio, meio vazio. Importa reconhecer a água que por aqui corre. Mas também é preciso perceber se há – ou não – fonte para encher a bolsa, a mente e a alma.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

Tags: Paulo Rego

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