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Recursos humanos e diferenciação no mercado desafiam entidades de Macau

Nelson MouraNelson Moura*

Um relatório da PwC China, uma empresa de consultoria, refere que a atividade empresarial na Área da Grande Baía (GBA) “tem resistido bem” apesar da pandemia. No entanto, as entidades financeiras de Hong Kong e Macau enfrentaram desafios relativos no que toca à procura de mão de obra qualificada e à diferenciação no mercado

A PwC entrevistou e reuniu opiniões de vários profissionais de negócios na GBA, incluindo clientes do setor bancário, gestão de ativos e seguros, bem como reguladores de organismos industriais e académicos. A firma apresentou “Serviços Financeiros na Área da Grande Baía: A GBA ganha forma” na semana passada, através de um comunicado de imprensa online.

“O consenso geral entre os profissionais do mercado que entrevistámos é que os volumes de negócios se têm mantido de forma notável ao longo dos últimos dois anos”, sublinha o relatório. “Uma vez levantadas as restrições às viagens e reuniões presenciais, estas novas iniciativas podem ser abraçadas. Podemos assistir a uma aceleração significativa no progresso da Grande Baía nos próximos anos”.

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Alguns dos desafios enfrentados por Macau e Hong Kong na penetração no mercado da GBA incluem o conhecimento e a diferenciação das marcas no mercado. “As instituições sediadas em Hong Kong e Macau estão claramente interessadas em entrar num mercado que é dez vezes maior”, salientou Monica Ng, Financial Services Assurance Partner e parceira da sucursal de Macau da PwC. “Mas será precisa uma estratégia de marketing para se distinguirem dos operadores históricos que já estão estabelecidos. A educação inovadora dos investidores pode ser uma forma de conseguir uma diferenciação”.

Os bancos de Hong Kong e Macau que procuram captar, tanto quanto possível, negócios a sul, por exemplo, precisarão de “encontrar o parceiro continental certo” com uma rede consideravelmente extensa e uma base de clientes na Grande Baía, segundo o mesmo documento.

“Servir os clientes da Grande Baía apresenta um desafio único, devido às diferentes partes da área e às viagens frequentes. Isto é distinto de servir clientes em Pequim ou em Xangai”, especificou o diretor-executivo da Standard Chartered na Grande Baía à PwC. Outra preocupação envolve o recrutamento e a retenção de talentos, tendo os entrevistados referido que o desenvolvimento de pessoal nas diferentes jurisdições da região, bem como as qualificações reconhecidas, poderiam ter condições mais flexíveis. “A escassez de talentos tem sido exacerbada por causa das restrições nas viagens.

O recrutamento da China Continental e de Hong Kong tem sido desafiante, uma vez que tem havido pouca apetência para as deslocações”, afirmou Chris Chan, da PwC China. Diferentes requisitos de licenciamento na China Continental, Hong Kong e Macau também restringiram as atividades de marketing transfronteiriço, particularmente no âmbito do Projeto de Gestão Financeira Transfronteiriça, com a indústria financeira a exigir licenças temporárias ou restritas semelhantes às utilizadas no setor jurídico.

GESTÃO FINANCEIRA TRANSFRONTEIRIÇA E UM AVANÇO IMPORTANTE

Segundo o relatório, embora as viagens dentro das três jurisdições incluídas na GBA tenham sido seriamente restringidas nos últimos dois anos, esquemas como o Projeto de Gestão Financeira Transfronteiriça (Wealth Management Connect) têm sido promovidos. Em setembro do ano passado, o programa foi lançado a título experimental, tendo atingido um volume de negócios superior a 200 milhões de yuan no primeiro mês e 13 mil contas abertas no total.

O esquema permite aos residentes de Hong Kong e Macau investir em produtos de investimento chineses ‘onshore’ através de bancos da Grande Baía, enquanto os residentes das nove cidades da província de Guangdong podem investir em produtos de riqueza das regiões administrativas especiais, através de bancos locais. Ao abrigo deste esquema, os residentes locais podem abrir uma conta de transferência de fundos para transações com os bancos locais aprovados e uma conta de investimento em yuan com bancos cooperantes na China, a fim de adquirirem produtos financeiros de baixo a médio risco comercializados por bancos continentais. Estes produtos podem ser obrigações, fundos de investimento em valores mobiliários de oferta pública, de cariz financeiro e de rendimento fixo.

Ao mesmo tempo, os residentes da China podem abrir uma conta de investimento para transações a sul, através do testemunho dos seus bancos cooperantes na forma de uma agência, ou pessoalmente nos bancos de Macau. “O esquema traz muito mais clareza à forma como os investidores da GBA são definidos, como o facto dos reguladores das diferentes jurisdições poderem trabalhar em conjunto, e como a própria área se pode tornar ainda mais integrada”, observa o relatório.

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No entanto, a PwC alerta para alguns desafios consideráveis que existem quando se pretende estabelecer uma presença num mercado já densamente povoado, sendo que a educação dos investidores e a oferta de serviços digitais são fatores chave para se atingir um avanço. O relatório assinala a falta de progresso em projetos como o Southbound Bond Connect ou o reconhecimento transfronteiriço de acreditações profissionais.

Este mercado de obrigações entre a China e Hong Kong foi oficialmente lançado em setembro de 2021, proporcionando um canal conveniente para os investidores institucionais do continente investirem na região vizinha e no mercado obrigacionista global. Desta forma, é reforçada a cooperação das instituições de serviços de infraestruturas financeiras nos mercados obrigacionistas das duas jurisdições.

No primeiro dia de negociação do Southbound, mais de 40 investidores institucionais continentais e 11 criadores de mercado de Hong Kong completaram mais de 150 transações, num total de cerca de quatro mil milhões de yuan, abrangendo os principais tipos de obrigações no mercado de Hong Kong.

NECESSIDADES FÍSICAS E DIGITAIS

O chefe do HSBC na Grande Baía, Daniel Chan, salientou que o PIB da região já excedeu o de algumas economias do G20, como a Coreia do Sul e o Canadá, com perspetivas de aumentar 2,5 vezes até 2030. “A Grande Baía é mais do que uma potência de produção e serviços financeiros: é a fonte de uma grande parte da inovação técnica que impulsionará a próxima era de crescimento”, observou.

O estabelecimento de zonas como Hengqin, Qianhai e as Metrópoles do Norte, as infraestruturas tecnológicas, tais como o intercâmbio de dados comerciais para pequenas e médias empresas, foram também descritos como passos importantes no desenvolvimento financeiro da região. O Projeto Geral de Construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin foi publicado pelo Governo Central em setembro do ano passado, com os membros da sua administração e comités executivos revelados mais tarde.

Através de Hengqin, será promovido o desenvolvimento das seguintes indústrias: investigação científica e tecnológica, indústrias transformadoras de topo de gama, indústrias de marca de Macau, como a medicina tradicional chinesa, turismo cultural, convenções, exposições, indústrias comerciais e indústria financeira moderna. Recentemente, o Chefe do Executivo indicou que era necessário acelerar os trabalhos de integração do sistema financeiro e jurídico do continente e de Macau em matéria civil e comercial dentro de Hengqin. “Outras inovações como o mCBDC, o eCNY e um potencial eHKD, poderiam transformar radicalmente a banca grossista ou retalhista na Grande Baía”, sublinha o relatório.

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Os entrevistados citaram uma série de outros desenvolvimentos, tais como o projeto de Intercâmbio de Dados Comerciais (CDI) da Autoridade Monetária de Hong Kong, que aproveita dados alternativos para facilitar a concessão de empréstimos às PME como potencial impulsionador significativo da atividade empresarial na GBA. O serviço é cada vez mais importante devido à maior utilização de serviços online causado pela Covid-19, revelando a necessidade de se investir em plataformas digitais. “As instituições financeiras também precisam de pessoas com competências certas para desenvolver este tipo de serviço digital.

Uma maior mobilidade de talentos, bem como um reconhecimento mútuo mais amplo das qualificações, podem ajudar a responder a este desafio. Isto sublinha a natureza multifacetada da Grande Baía. Os participantes no mercado precisarão de estratégias sofisticadas para terem sucesso”, esclareceu Michael Qiu, da PwC China, durante a apresentação do relatório.

De acordo com o documento, esta onda de novas ferramentas e serviços digitais poderá revelar-se transformadora para a área, especialmente quando forem explorados mais casos de utilização transfronteiriça. A moeda digital da China, o yuan digital, já viu mais de 140 milhões de carteiras abertas e mais de 150 milhões de transações realizadas até outubro de 2021, salienta o relatório, tendo a Autoridade Monetária de Hong Kong já iniciado uma fase experimental do dólar de Hong Kong digital no ano passado.

De acordo com as orientações políticas deste ano, as autoridades avançarão com propostas para reformular o quadro jurídico do sistema financeiro local, cancelar o sistema de revisão e aprovação da emissão de obrigações em vigor, introduzir licenças de bancos de investimento, e melhorar as alterações que permitiriam a introdução de moedas digitais.

*Macau News Agency

Artigo original disponível em: Macau News Agency

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